Em tempos, quando os bancos eram olhados de soslaio por serem o coração das economias de mercado, havia quem dissesse que banco é aquela instituição financeira que está disposta a emprestar dinheiro mas só a quem provar que tem dinheiro. Parecia tirada de stand up comedy.

Os bancos continuam a ser o coração das economias de mercado, mas agora já não basta provar que se tem dinheiro para conseguir que eles abram os cordões à bolsa, agora é preciso estar disposto a pagar bastante mais pelo empréstimo. Para compensar riscos acrescidos.

Isto nota-se no crédito à habitação. A banca aperta os critérios de concessão (corrigindo facilidades em excesso de outros tempos) e aumenta os spreads como que a compensar as baixas taxas Euribor que, entretanto, também já começaram a subir, embora devagarinho.

Tudo isto era esperado e é compreensível num cenário de dificuldades de financiamento, até para os bancos, instituições que têm cada vez menos bons clientes e cada vez mais clientes de risco, precisamente aqueles a quem se pede spread mais elevado. “Se pede spread”, rima e é verdade.

Até aqui tudo bem, até aqui tudo previsível num quadro como o actual, na ressaca da crise que baptizamos de subprime e que foi gerada na inconsciência da criação de alguns produtos financeiros menos seguros, cujo colapso obrigou a intervenções excepcionais e raras.

Só que os efeitos colaterais de todo este imbróglio financeiro que teve o epicentro em Setembro de 2008, na falência daLehman Brothers (o segundo maior banco de investimentos dos Estados Unidos da América), ainda se fazem sentir no pião das nicas que foi o sector imobiliário.

E a banca, que um pouco por todo o lado ficou com uma série de meninos nos braços, fruto de muitas ligações perigosas com o imobiliário, pode cair na tentação de se desfazer destas heranças, a qualquer preço, numa ilusão do imediato que se traduziria na desregulação total do sector.

É normal e higiénico que deitemos fora a água do banho do menino mas não podemos, distraidamente, deitar fora o menino. O preço que pagaríamos por este erro seria, esse sim, verdadeiramente incomportável. Além de que esse erro não beneficiaria ninguém.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 7 de Julho de 2010 no Público Imobiliário

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