O investimento estrangeiro na reabilitação do património construído em Portugal deve ser acarinhado, reconhecido e aplaudido. Mesmo passando a ser propriedade de cidadãos estrangeiros, essa riqueza continuará a ser de Portugal, a existir em Portugal, não podendo esses investimentos serem considerados delapidação do que é nosso, como apregoam certos oráculos do agoiro.

Tirando um curto período em que o país recebeu algumas pipas de massa em apoios financeiros comunitários ao Turismo Rural, jamais tivemos capacidade para recuperar muitas dessas joias que, nas nossas mãos, conheceram mais degradação do que reabilitação. Os apoios ao turismo rural salvaram muito património construído, incluindo algum que, depois de reabilitado, desistiu da ideia de ser espaço para receber turistas.

Não me lembro de ouvir críticas à delapidação do nosso património perante o claro abandono de muitas casas solarengas e outros palácios rurais, por incapacidade financeira dos seus proprietários… Mas hoje, perante o interesse de alguns investidores estrangeiros na recuperação desse património, há quem finja vergonha por supostamente estar a ser “vendido”, mesmo sabendo-se que a propriedade imobiliária em solo nacional a favor de cidadãos estrangeiros não belisca a soberania do país.

Como em tempos escrevi, o que realmente mais pode afectar a soberania do país é a degradação do nosso património construído, nomeadamente nos centros das nossas principais cidades, com a consequente desertificação das mesmas, a descontrolada construção de periferias e de periferias das periferias, em desenhos urbanísticos improvisados, que, por exemplo, multiplicam os movimentos pendulares das populações na deslocação casa/ trabalho, trabalho/casa, roubando, no mínimo, efetiva qualidade de vida e muitos recursos energéticos que uma boa reabilitação pouparia.

Ainda bem que a reabilitação do nosso imobiliário tem gerado interesse em investidores estrangeiros. Não perdemos a nossa soberania por isso nem estamos a vender as nossas cidades – estamos, isso sim e pelo contrário, a contribuir para salvar as cidades e para recuperar o país.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 08 de setembro de 2014 no Diário Económico

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