Os proprietários do Restaurante Mónaco, uma estrela entre os restaurantes da Grande Lisboa nos anos 60 do século passado, tão marcante que emprestava o nome a uma das mais perigosas curvas da Marginal de Cascais, estão a vender esse espaço de 1100 metros quadrados que mantém a licença que fez dele um dos locais de culto da capital.

Hoje já não se ouve o chiar dos pneus a travar na curva perigosa, que mantém o mesmo traçado mas já não acolhe todo o trânsito da linha, o que não significa, segundo as notícias vindas a lume, que os proprietários, ausentes na América Latina, estejam dispostos a aceitar uma derrapagem dos preços na hora de alienar este joia da restauração portuguesa que tem história.

No Algarve, onde me encontro como quase sempre acontece em Agosto, fiquei preso, pela positiva, a esta notícia da inclusão do Restaurante Mónaco na oferta do mercado imobiliário português, neste segmento, realçando a firmeza dos proprietários na intenção de não baixar o preço daqueles 1100 metros quadrados.

O preço, divulgado por uma mediadora imobiliária, anuncia-se como tendo em consideração o estado do edifício, bastante  degradado e a carecer de uma intervenção profunda, bem como a circunstância do restaurante estar encerrado há muito tempo e ter experimentado, no terrível ano de 2008, uma tentativa não conseguida de o recuperar.

Isto não o retira dessa localização privilegiada que é o de estar na curva do Mónaco, de ser uma joia do imobiliário turístico comercial – com todas as potencialidades que tal acarreta – e de manter a respetiva licença com a possibilidade desta poder vir a ser alterada em função do interesse de quem venha a adquirir o imóvel.

Sem querer intervir em qualquer possível negociação que venha a desenvolver-se em torno desta eventual transação – como aliás tem sido e continuará a ser um dos limites da minha intervenção mediática – tenho de sublinhar a lucidez demonstrada neste processo quando se resiste a aceitar desvalorizações excessivas do património num contexto difícil como o que vivemos.

Nem sempre será fácil resistir – admito – mas o olhar que lanço sobre a realidade que está a viver-se nesta região turística onde me encontro aponta no sentido de se vislumbrar já alguma viragem em direção à recuperação que todos desejamos, tendência que mais reforça a ideia da justeza da defesa dos valores justos de mercado em oposição às teses que defendem desvalorizações gratuitas e artificiais da nossa riqueza patrimonial.

Derrapagens na curva do Mónaco só as que os automobilistas de antigamente às vezes sofriam. Os aceleras dos nossos dias já podem escolher e escolhem outras vias e nos preços das nossas joias do imobiliário comercial também estão a desaparecer tais descontrolos. Para bem do sector e de todos os proprietários de imóveis cujo valor também desvaloriza quando desvaloriza artificialmente qualquer outro imóvel.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 12 de Agosto de 2013 no Diário Económico

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