A solidez das instituições financeiras avalia-se pela análise cruzada de um conjunto de indicadores e rácios, à cabeça dos quais aparecem os rácios de capital tidos como os mais mais relevantes para a avaliação da robustez e solvabilidade.

Decorre da legislação que os Bancos tenham de manter determinados valores de capital – indispensáveis para aguentar perdas operacionais inesperadas e honrar os capitais dos depositantes – alguns dos quais, não todos, permanentemente disponíveis.

É isto que dá credibilidade ao sistema financeiro, gerando confiança em quem nele deposita as respectivas poupanças, condição indispensável para que o sistema financeiro cumpra a sua função vital que é a de ser o sangue que circula e dá vida às Economias.

Tudo isto foi, seguramente, alvo de equação pela agência de `rating’ Standard & Poor’s que há dias atualizou as suas perspectivas para os principais bancos portugueses, atribuindo a Caixa Geral de Depósitos, ao BES, ao BESI, ao BPI, ao BCP e ao Santander Totta nota positiva.

Também em análise estão sempre alguns ativos detidos pela banca, nomeadamente os ativos imobiliários, com um peso de tal forma significativo nestas avaliações que pode fazer oscilar os pratos desta sensível balança num ou outro sentido e, em consequência, com efeitos colaterais positivos ou negativos.

A situação atual exige cuidados extremos. O peso dos ativos imobiliários não deverá – assim se espera – gerar movimentos de desvalorização do próprio património construído nem, simultaneamente, ser um travão ao financiamento da Economia por parte do sistema financeiro.

A tentação, tantas vezes potenciada por critérios muito apertados para a avaliação das instituições financeiras, de diminuir o peso dos ativos imobiliários, pode, pela própria opção encontrada para atingir este fim, ter um efeito perverso na Economia criando um ciclo vicioso muito perigoso, pela desvalorização dessa riqueza e consequente desregulação de um mercado essencial à recuperação da nossa Economia.

O importante rácio de crédito vencido, ou seja crédito em incumprimento, vai refletir-se, inevitavelmente, na política de crédito a conceder, mas uma prudência extrema, nas antípodas da imprudência do chamado tempo das vacas gordas, pode não ser uma virtude na exata medida em que impeça uma agenda de crescimento indispensável para a cura dos nossos males e para a consolidação do nosso bem.

Neste Mundo globalizado ninguém se salva sozinho. Nem a banca comercial – coração e pulmões das Economias de Mercado, veja-se, por exemplo, o caso de Espanha, alvo de um programa especial de apoio europeu, que terminou há dias, exclusivamente virado para a banca. Aqui ao lado, recorde-se, houve bolha imobiliária e alguns ativos do sistema financeira ainda poderão cair.

Mas Portugal não é a Espanha. Aqui o mercado imobiliário não sofreu os efeitos da bolha imobiliária espanhola, aqui não há qualquer justificação para que os ativos imobiliários detidos pelos bancos forcem a desvalorização do património construído e, a agravar ainda mais, travem o financiamento urgente e vital da nossa Economia.

Nunca é demais lembrar tudo isto para desarmadilhar ciclos viciosos perigosos.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 27 de janeiro de 2014 no Jornal i

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