Mais de metade do crédito malparado em Portugal está “preso” na habitação, na construção e em atividades imobiliárias. São quase 9 mil milhões de euros de um total de quase 17 mil milhões de euros de cobrança difícil, segundo os cálculos do Banco de Portugal no final do primeiro semestre do ano.

O crédito malparado tem vindo a aumentar entre nós registando no total uma subida de 17% face aos valores de há um ano, com relevo nesta área para as empresas da construção e do imobiliário, com as famílias também a contribuir para esta realidade preocupante, embora já de forma mais controlada.

Os números valem sempre o que valem, mas valem menos se os lermos de forma aparentemente fria e distante, como se fossem apenas números sem consequências. Na verdade, os valores do crédito malparado mostram que a recuperação do país tem de passar por este sector do imobiliário.

Um sector que responde por mais de metade do crédito malparado, que não tem no seu histórico recente e de médio prazo qualquer bolha imobiliária, que pode e deve crescer em áreas como as da Reabilitação Urbana e do Turismo Residencial, terá de merecer outra atenção por parte das políticas para o desenvolvimento.

Este sector, recorde-se, também gera desemprego de longa duração que atinge trabalhadores de menor formação profissional em idade média suficientemente elevada para dificultar o reingresso no mercado de trabalho mas insuficiente para o conduzir a uma situação de reforma, mesmo com penalizações.

Conjugando tudo isto e tendo em conta, como temos de ter, que ninguém é descartável nem pode ser reduzido à condição de um mero número num universo estatístico, concluímos que o sector do imobiliário tem de ser uma das primeiras prioridades. A palavra de ordem é “descimentar” a nossa própria crise.

Em Dezembro passado defendi, neste mesmo espaço, que o “renascimento” do imobiliário e da construção também pode passar pela internacionalização de algumas das nossas principais empresas do sector em países onde claramente a Economia está a crescer. Mas também já sublinhava que tal não basta.

Defendia e defendo que  o futuro do nosso imobiliário exige um olhar mais global, acrescentando agora a urgência da adoção de condições que possam inverter o perigo que constitui a manutenção de créditos elevados no rol dos malparados, nomeadamente no que respeita às empresas do sector da construção.

O Estado (leia-se Governo) e o sistema financeiro (leia-se banca comercial) estão seguramente na primeira linha dos mais interessados em evitar que a presente crise fique perpetuada em Portugal, o que justifica a urgência de um esforço acrescido para encontrar soluções que resultem para este real problema.

A acumulação de crédito malparado por parte das famílias (situação que, neste caso, já começou a estabilizar e a inverter-se) e por parte das empresas (onde a realidade ainda não foi atalhada com determinação) é de um perigo evidente para a Economia do país e para todos nós. Algo tem de ser feito no imediato.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 26 de Agosto de 2013 no Diário Económico

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