Há três tipos de mergulho, o livre, o autónomo e o umbilical ou dependente. O livre é o de apneia, sem qualquer auxílio, o autónomo exige que o mergulhador leve equipamento que lhe permita respirar debaixo de água e o mergulho dependente, talvez o mais perigoso, aquele em que o auxílio à respiração é feito a partir da superfície, o que implica que o mergulhador esteja ligado ao exterior por uma mangueira.

Com exceção do mergulho livre, que depende da capacidade pulmonar, da preparação física e do controlo emocional do mergulhador, o grande problema da prática das outras duas modalidades de mergulho é sempre a descompressão. Descompressões mal feitas, apressadas, ou que sejam efectuadas em profundidades inadequadas e sem os tempos rigorosos podem ser fatais.

O tempo máximo de capacidade para um mergulho de apneia, próprio e adequado aos seres que respiram por pulmões, varia de ser para ser. Uma baleia pode aguentar-se em mergulho de apneia durante mais de uma hora e meia mas um ser humano não suporta, em média, mais do que dois minutos. Mantendo as suas faculdades básicas, entenda-se.

No mar imenso e atrativo do nosso mercado imobiliário, muitas famílias e até empresas mergulharam, de livre vontade muito incentivada, em busca de habitação ou de instalações próprias. E na maior parte dos casos fizeram-no com o auxílio externo à respiração, tantas vezes nos limites das respectivas capacidades e até correndo os riscos fatais das más e apressadas descompressões.

Continuando no exemplo dos conhecidos riscos que algumas práticas de mergulho implicam – da embolia traumática a narcoses que podem manifestar-se por euforias, desorientações e atitudes desconexas – digo que, em situações vitais de emergência, a solução passa sempre por tentar descomprimir de forma adequada, alargando os tempos de subida e nunca, mas mesmo nunca, prendendo a respiração nessa viagem de retorno à superfície.

Como sempre, a solução é dar tempo e espaço para a descompressão certa e absolutamente indispensável à sobrevivência de quem mergulhou a profundidades que, na hora do mergulho, julgava poder aguentar, num erro de cálculo a que muitas vezes o próprio mergulhador é alheio. Esta parece ser a solução que está a ser concertada por muita gente, do Banco de Portugal e da Banca ao Governo e à Assembleia da República, aliviando as pressões perigosas e inesperadas que muitas famílias e empresas estão a sentir em sede de créditos contraídos para adquirir bens imóveis.

Este alívio da pressão que se abate sobre famílias e empresas prestes a falhar compromissos contraídos em sede de crédito não salva apenas aqueles que são devedores aflitos – salva os próprios credores que, de outro forma, dificilmente se livrariam dos efeitos colaterais adversos de todas as potenciais embolias traumáticas e de todas as necroses.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 11 de junho de 2012 no Diário Económico

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