Estou longe de pertencer ao clube dos que pensam que a melhor forma de adiar uma solução urgente é nomear uma comissão que se encarregará de promover uma série de reuniões antes de se avançar para algo de concreto, mas começo a vacilar quando sou confrontado com os efeitos de um compromisso para a competitividade sustentável do setor da construção e imobiliário, assinado a 8 de Março, entre o Governo de Portugal e a Confederação Portuguesa de Construção e Imobiliário (CPCI), com a pompa e circunstância da presença de mais do que um representante do nosso Governo.

O documento, assinado há três meses e meio, falava em apoios à internacionalização do sector, falava na promoção de investimentos públicos estruturais e contemplava uma monitorização conjunta destas boas intenções  assumidas para mostrar que, afinal, a tão desejada e necessária agenda para o crescimento existia e não estava esquecida. Nesse dia 8 de Março, que foi, como todos os dias 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, a notícia do dia não se limitou aos avanços nas questões da igualdade dos géneros.

O  “Compromisso para a Competitividade Sustentável do Setor da Construção e do Imobiliário” reafirmava (e espero que ainda reafirme) que a Reabilitação Urbana é um dos comboios em que a nossa Economia deve embarcar, não apenas para relançar a própria Economia, estancando e invertendo muito do desemprego existente, mas principalmente para assumir responsabilidades éticas relativamente a todos aqueles a quem vamos deixar em herança as nossas cidades.

Isto em nome de um mais do que consensual, pelo menos nos papeis, desenvolvimento urbano inteligente, verdadeiramente sustentável e socialmente inclusivo, capaz de tornar as cidades europeias mais competitivas e mais vocacionadas para proporcionar bem-estar a quem nelas já vive sem hipotecar o bem-estar dos cidadãos vindouros.

Parecia que o sector estava finalmente a ver chegar as desejadas e prometidas condições para poder desempenhar o papel que lhe cabe na reconstrução do país, ensaiando até o acesso aos fundos do próximo quadro de apoio comunitário, a vigorar até 2020 e a contemplar precisamente as preocupações que envolvem as questões relacionadas com a regeneração dos espaços urbanos e a própria Reabilitação Urbana das nossas principais cidades, seja pela adoção de uma efetiva política de apoio à internacionalização, também importante no presente contexto.

Mas tudo isto não passou, ainda, daquilo que em Atletismo é conhecido como uma falsa partida. O compromisso assinado ainda é, apenas e só, um descompromisso, a fazer lembrar aquelas comissões que se nomeiam para ganhar tempo, objetivo que poderá, assim, ser alcançado com este “esquecimento” mas que trará com ele uma desilusão crescente que muito dificultará o regresso da confiança que será preciso restabelecer para ganharmos de novo Portugal.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 24 de Junho de 2013 no Diário Económico

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