A célebre frase do presidente norte-americano John F. Kennedy a transformar-nos a todos em consumidores – “consumidores somos todos nós”, disse em 1962 – deixou de ser, nos nossos dias, tão universal quanto desejava Kennedy. Já não somos todos consumidores, pelo menos na dimensão sonhada há meio século nos Estados Unidos da América e na Europa que, em parte, se revia nos americanos.

A frase de Kennedy traduzia o reconhecimento crescente da força dos mercados internos para o desenvolvimento dos países, no ciclo virtuoso das economias que produzem bens transacionáveis, gerando riqueza que depois de distribuída faz aumentar o poder de compra das populações desses mesmos países, constituídas por cidadãos que também precisam de ser consumidores para sentirem alguns efeitos práticos da cidadania.

Claro que depois destes sonhos, como se sabe, muita água correu debaixo das pontes, assistiu-se a vários choques petrolíferos, ao fim da convertibilidade direta do dólar em ouro e à desilusão que foi ver cair as desejadas sociedades da abundância que deveriam garantir o pleno emprego e a gasolina para as “banheiras” que bebiam dezenas de litros por cada cem quilómetros percorridos. De tal forma que a confiança nunca mais voltou sem manter sérias desconfianças.

Às vezes, como no presente momento, estas dúvidas e estas desconfianças agudizam-se tornando ainda pior o cenário mau em que se vive. E quando digo pior refiro-me a situações concretas em que, muito pior do que não poder comprar, podemos comprar mas, apesar deste poder, não o fazemos, por medo, por excesso de cautelas. Quando isto ocorre, antes de tudo é preciso devolver o entusiasmo às pessoas que povoam os mercados internos.

É que estas pessoas também têm de fazer parte do universo de consumidores que irá procurar casa nos futuros centros históricos reabilitados para os povoar e para os tornar mais atrativos a quem possa estar interessado a investir, aqui e agora, por exemplo na reabilitação urbana que fala para o arrendamento urbano e para o turismo residencial e que, naturalmente, tem de ser um dos pilares de qualquer competitividade sustentável para o sector.

O recente compromisso para esta competitividade, assinado entre o Governo e a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), contempla vários reconhecimentos importantes, a começar no peso que o sector assume na produtividade nacional e na manutenção de emprego, mas terá também de olhar para estes aspetos subjetivos do comportamento das pessoas nos mercados se quiser cumprir o que pretende cumprir.

O túnel até pode receber algum dinheiro, alguma fatia que tenha sobrado do bolo do QREN já velho, ou alguma fatia, mais fresca, do próximo QREN, mas se não formos capazes de reacender a luz – a tal luz ao fundo do túnel que alguns já veem e muitos não -, ou seja, se não formos capazes de recuperar esperanças, reeditar confianças, não será ainda desta que conseguiremos reanimar os mercados.

Para voltarmos a dizer que “consumidores somos todos nós” e para deixarmos de andar assim tão “desconsumidos”.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa 
luis.lima@apemip.pt

Publicado do dia 18 de março no Diário Económico

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