Há quem diga, justificando o que diz, que não há sinónimos, ou seja, que cada palavra tem nuances próprias e é, portanto, diferente de qualquer outra que aparente significar o mesmo. A palavra descrispação (que em boa verdade não existe e será um neologismo) é diferente da palavra desanuviamento embora ambas possam ser utilizadas para traduzir tentativas para melhorar situações tensas.

No século passado, durante a guerra do Vietname, durante grande parte da década de sessenta e nos primeiros anos da década de setenta, falou-se muito em desanuviamento nas relações internacionais, nomeadamente entre os Estados Unidos e a então União Soviética. Foi o tempo do telefone vermelho entre a Casa Branca e o Kremlin e das negociações para limitar armamento e reduzir arsenais nucleares.

Vivíamos um tempo que ficou na História com o nome de Guerra Fria, num equilíbrio entre duas super potências que chegou a ser reconhecido como o equilíbrio do medo, e os esforços de desanuviamento desenvolvidos foram importantes para a evolução verificada no Mundo, de que a queda do Muro de Berlim e mais recentemente a aproximação de Cuba aos Estados Unidos podem ser grandes marcos.

Revisões da História à parte, por maior esforço que os desanuviamentos ou as descrispações  exijam, a verdade é que estas atitudes são sempre preferíveis aos confrontos e às rupturas e, por maioria de razões, nos momentos em que o confronto e a ruptura são potencialmente desestabilizadores enquanto o desanuviamento ou a descrispação limitar-se-ão a impor uma espera (normal) aos que discordam do caminho que uma determinada maioria quer assumir.

O preço do confronto e da ruptura – é sempre bom recordá-lo – é também sempre mais pesado do que os eventuais efeitos colaterais do seu contrário. Não havendo surpresas desagradáveis que nos escapem e possam justificar excessos de cautelas, mais perigoso do que uma mudança de rumo num quadro de respeito pelos compromissos assumidos, é esta crescente e contagiante crispação instalada.

Na política e nos negócios que devem viver, em separação de facto, salvaguardando-se mutuamente. 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portugesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 16 de Novembro de 2015 no Diário Económico

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