Habituados a uma casta privilegiada de críticos, que sempre os vêem ricamente vestidos, mesmo quando poderão estar realmente nus, como naquela história do Rei, Ângela Merkel e Nicolas Sarkozy, que se encontram mais vezes do que muitos amantes clandestinos, ganharam agora o péssimo e preocupante hábito de falarem sozinhos. Mesmo quando aparecem juntos e ao vivo.

Dando de barato a grosseria que resulta de deixarem que os media cubram e reportem aqueles frequentes encontros a dois, para tratar dos assuntos de 17, quando não dos 27, o casal que julga dominar a Europa, a partir dessa localização geográfica a que muitos chamam eixo franco-alemão, parece tentado a travar o impossível. Mais ela do que ele, se os sinais que nos chegam são realmente os sinais certos.

Isto é particularmente visível quando tentam adiar a discussão sobre as eurobonds, uma espécie de vasos comunicantes entre os meios financeiros dos países do Eurogrupo, disponíveis para garantir a emissão de títulos de divida europeus, solução até agora recusada nos próprios tratados da União Europeia.

Sendo certo que a emissão de eurobonds não solucionará, só por si, a crise das dívidas soberanas, solução que passa por um menor endividamento e pela criação de maior riqueza, a verdade é que a chegada desses “títulos” terá, pelo menos, o condão de travar a especulação dos mercados que se constata numa irracional inflação dos juros.

De Berlim chovem recados, directos e indirectos, contra tais títulos europeus, numa linguagem quase cifrada que, no entanto, insinua claramente que a Alemanha não estará disposta a ser a mãezinha dos países periféricos. Diferentemente da França, parece.

Mas, o que até parece é que, a adopção do Euro como moeda preponderante na União Europeia foi um bodo oferecido desinteressadamente pela Alemanha aos povos europeus do Sul, uns ingratos que em vez de trabalharem de Sol a Sol terão adquirido o péssimo hábito de viver do rendimento dos ricos. Até parece que a Alemanha perde com o Euro.

Ou será que os actuais grandes da Europa estão agora empenhados em desfazer o que aqueles que os antecederam foram construindo, com todos os erros que todos os construtores sempre acabam por cometer. O que só é mau se não houver capacidade de os emendar.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 26 de Agosto de 2011 no Diário de Notícias

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