A mensagem sobre o Estado da Nação Angolana, proferida por José Eduardo dos Santos, Presidente da República, na abertura da II Sessão Legislativa da III legislatura da Assembleia Nacional de Angola, foi um discurso de 3500 palavras que teve uma breve referência, de menos de 200 palavras, ao relacionamento político com Portugal.

Ao referir o prestígio e a confiança que Angola está a granjear no estrangeiro, como o provam o investimento estrangeiro e a inclusão do país como destino turístico, o presidente José Eduardo dos Santos disse “só com Portugal, lamentavelmente, as coisas não estão bem”, acrescentando que “têm surgido incompreensões ao nível da cúpula” e que “o clima político atual, reinante nessa relação, não aconselha a construção da parceria estratégica antes anunciada!”.

Sempre me interroguei, quando comecei a dar atenção às notícias da política, sobre as razões que levavam alguns jornalistas, em especial das grandes agências internacionais, a quantificar o número de palavras que determinado assunto merecera num discurso e a comparar esse valor com o número total de palavras do próprio discurso. É na verdade uma comparação importante pois mostra o peso que se quer dar a tal mensagem.

O que o Presidente de Angola disse, na Assembleia Nacional de Angola, sobre o estado atual do relacionamento político entre Luanda e Lisboa foi importante por ter sido proferido pelo Presidente e na solenidade do discurso do Estado da Nação, era esperado pelo tema estar na ordem do dia (por força de várias declarações cruzadas) mas tem, felizmente, um peso relativo claramente indicado pelo espaço que José Eduardo dos Santos lhe concedeu no todo do seu discurso.

Como qualquer país que vive em paz e empenhado na construção de uma “nova sociedade democrática, inclusiva e próspera” (para citar as palavras do próprio Presidente), Angola tem relações estáveis com quase todos os países do mundo, mantendo, com muitos deles, uma cooperação económica crescente e com benefícios recíprocos. Mas, tenho de reconhecer este respeito mútuo, desejavelmente sem interferências nos assuntos internos, esbarra no preconceito – também referido por José Eduardo dos Santos – “de que o homem africano rico é corrupto ou suspeito de corrupção”.

Queiramos ou não, esse preconceito está quase sempre presente na violação dos segredos de justiça que acabam transformados em julgamentos na praça pública, situação intolerável que nenhum princípio, por mais justo que seja como o é o da separação dos poderes, pode justificar. Esse preconceito pode minar as relações entre países irmãos, como o são Angola e Portugal, países que acolhem fortíssimas comunidades do outro e onde há interesses mútuos cruzados que podem ser muito prejudicados.

O discurso do Presidente José Eduardo dos Santos na abertura da II Sessão Legislativa da III legislatura da Assembleia Nacional de Angola também foi, no que toca a este assunto e na minha modesta leitura, uma ponte para a desminagem da relação política entre Angola e Portugal.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 25 de Outubro de 2013 no Sol

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