Desvilamourar é possível? Será possível que viver ou investir numa das joias do turismo da Europa, como continua a ser a algarvia Vilamoura, possa ser algo que se consegue ao desbarato, como que em saldos de fim de estação ?

As leituras mediáticas de uma recente investida comercial para vendas atípicas de imóveis de elevada qualidade em Vilamoura apontam, claramente, para uma desvalorização deste destino, desvalorização que, admito, não estará nas intenções da empresa que promoveu tal promoção, mas que passou para o público.

Em boa verdade, face a essas leituras, amplamente publicitadas, seria mais adequado falar em despromoção do que em promoção, tanto mais quanto a promotora de tal iniciativa é apresentada e é uma imobiliária de peso que opera em vários países em regra no segmento médio e médio alto.

No contexto português, livre de bolhas imobiliárias, uma leitura como a que foi feita, em especial na Internet, em torno de um leilão de algumas joias imobiliárias de Vilamoura, é uma má propaganda para um mercado imobiliário como o nosso que possui ofertas de elevada qualidade e potencial rentabilidade a preços suficientemente competitivos para dispensarem descontos de saldos.

Mesmo considerando que de acordo com o regulamento desta promoção, a fazer fé no que foi tornado público pela Imprensa, a empresa apenas se obriga a aceitar o preço mais alto em cinco dos 42 imóveis em venda, podendo recusar todos os restantes se considerar o valor insuficiente, a verdade é que esta solução é especialmente desadequada neste segmento e má para todo o mercado.

O presidente da empresa norte-americana que organizou esta venda, a pedido da promotora imobiliária que gere alguns apartamentos e moradias de luxo em Vilamoura, citado também na Imprensa, reconheceu o grande potencial imobiliário que Portugal oferece, nomeadamente no segmento premium, pela qualidade e pelos preços desta oferta. 

Esta opinião, no caso verdadeiramente independente pois não representa nem a oferta nem a procura, mais reforça a ideia que venho defendo, neste como noutros exemplos, da inadequação, mesmo que aparentemente vantajosa pela rapidez com que possa concretizar-se, de certas soluções comerciais que sempre acabam a lançar suspeitas injustificadas sobre a valia dos mercados onde ocorrem.

Admito que esta situação seja mais uma consequência, direta ou indireta, de alguma descapitalização e de alguma dificuldade de acesso a crédito, em condições minimamente aceitáveis, por parte de empresas que operam em mercados, como o mercado imobiliário português, onde a procura está a mudar, nomeadamente no que toca à proveniência dominante dessa mesma procura.

O nosso imobiliário continua a ter condições para servir de refúgio a poupanças e a investimentos, nacionais e estrangeiros, alternativos a outras aplicações que a crise que estamos a viver revelou serem menos seguras, especialmente os investimentos em produtos financeiros tóxicos que estiveram na base da instabilidade financeira mundial que marca este tempo. Mas para continuar a ser um bom destino não pode dar tiros no pé que o desvalorizam artificialmente.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 01 de Julho de 2013 no Diário Económico

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