Há, na recusa em eleger os trabalhadores sócios gerentes de empresas como possíveis beneficiários do subsídio de desemprego (se e quando as respectivas empresas encerrarem), uma cegueira fundamentalista que olha com desconfiança para o empresário, catalogando-o no rol dos oportunistas crónicos.
Muitos destes sócios gerentes são antigos trabalhadores por conta de outrem que criaram o respectivo posto de trabalho, pela constituição de uma empresa onde são ao mesmo tempo gerentes e trabalhadores únicos, cumprindo todas as obrigações inerentes face ao fisco e à Segurança Social.
Num quadro de grande agressividade contra as pequenas e médias empresas, aqueles trabalhadores, que tiveram de vestir a pele de patrão para voltarem a trabalhar, correm o risco de voltar ao desemprego involuntário, estando nesta nova vicissitude totalmente desprotegidos, apesar de terem sido contribuintes para o sistema.
Prevalece a velha mentalidade que diaboliza patrões e diviniza empregados, como outros diabolizam e diabolizaram proprietários e senhorios para divinizar inquilinos, mesmo quando estes são relapsos militantes na hora de pagar a renda e transformam o arrendamento numa ocupação ilegítima que pode durar anos.
Alterar esta mentalidade, alargando os benefícios sociais a todos quantos contribuem para a segurança social e erradicando a cegueira fundamentalista contra os empresários, é, além do mais, e por uma questão de equidade, uma elementar medida de justiça para a qual urge ter coragem.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 16 de Fevereiro de 2011 no Diário Económico