Ser um espaço com população e território suficientemente grandes para que o todo seja uma potência económica coesa e com peso no Mundo global ou continuar a ser apenas um mercado comum para mercadorias, política e socialmente diferenciado, eis um dos velhos dilemas desta velha senhora aristocrata que dá pelo nome de Europa.

Estar dividido entre a consciência de que uma verdadeira união política só o é num quadro de pequenas ou nulas assimetrias e a tentação de fazer prevalecer os interesses do centro e do Norte quando as periferias e o Sul reclamam mais atenção e mais coerência com os princípios fundadores da união, eis outro dilema da Europa.

Impor uma austeridade orçamental conveniente às regiões mais ricas e desenvolvidas, por interesses específicos de alguns nacionalismos, em oposição às evidentes necessidades das regiōes mais vulneráveis, eis um outro olhar sobre os dilemas que minam e preocupam a Europa enquanto candidata a potência mundial.

O orçamento da União Europeia, mais do que oferecer condições para o crescimento das periferias europeias mais necessitadas de um crescimento que potencie um desejável desenvolvimento sustentado, será um teste à própria vontade da Europa em afirmar-se como potência económica que conta enquanto farol civilizacional do Mundo.

Cortar o financiamento mínimo de Economias como a nossa e como outras, quando toda a Europa foi, recentemente, chamada a salvar, in extremis, os sistemas financeiros não hesitando em fazê-lo através dos orçamentos públicos de muitos Estados, não é, relativamente ao seu contrário, um dilema, é um erro.

Quem realmente espera que prevaleça o bom senso de consolidar uma Europa que no rescaldo da última grande guerra começou a unir-se num todo que integra as diferenças, sem perder de vista a unidade política e económica que pode fazer deste velho continente uma democracia em todas as vertentes da sociedade, aguarda outra ousadia de Bruxelas, nomeadamente em sede do Orçamento da própria União Europeia.

Uma ousadia que se traduza num orçamento de esperança para os países mais enfraquecidos da União Europeia e que, de uma vez por todas, dê sinais de que a Europa sonhada por Jean Monnet consegue realmente erguer-se como potência determinante no Mundo pela força dos valores que defende, incluindo o valor que reside na dignificante  idéia de que um Estado de Direito tem de ser um Estado Social.

As potências mundiais já não são, há muito, aquelas que tinham o controlo dos mares e pela via marítima garantiam impérios tão grandes que sempre algum território desses impérios estava a ser iluminado pelo Sol, mas sim os Estados que conseguem oferecer condições de vida a quem neles vive e trabalha.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 10 de dezembro de 2012 no Diário Económico

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