A vaticanista Aura Miguel, jornalista acreditada pela Rádio Renascença no Vaticano, autora do livro “ Porque Viajas Tanto?”, onde faz referências a viagens do Papa João Paulo II, que ela acompanhou, escreveu um dia que a Igreja não é comparável a uma multinacional, nem os papas devem ser equiparados a presidentes dos conselhos de administração.
Esta jornalista testemunhou, nessas declarações, que o registo das prioridades do Vaticano e do Papa são diferentes das nossas, lembrando, nesse contexto, “que o Papa não precisa de ganhar eleições”. No prefácio do livro “Porque Viajas Tanto?”, da autoria do Cardeal José Saraiva Martins, lê-se que a autora privilegiou nesses relatos “pormenores divertidos, intensos e comoventes”.
Essa atenção “do repórter a quem nada escapa”, nas palavras de D. José Saraiva Martins, é fundamental em tudo quanto possa alterar-se por força da força dos midia, ferramentas tão poderosas que quando dão voz, mesmo que seja aos que normalmente não a têm, também podem estar a retirá-la a outros numa involuntária, e muito difícil de evitar, compensação.
Atrevo-me a fazer eco destas minhas reflexões, pelo facto delas entroncarem nas reflexões que outros já fizeram e testemunharam, como é o caso da jornalista Aura Miguel. Numa delas, muitas vezes citada por um amigo meu, a vaticanista revela uma reflexão de João Paulo II que é, seguramente, um desses “pormenores” que D. José Saraiva Martins sublinha.
Num avião ao serviço de João Paulo II, onde ela também viajava integrada na comitiva, o Papa, como habitualmente, cumprimentou os jornalistas que o acompanhavam mantendo com cada um uma pequena conversa de circunstância. Fugindo ao costume, Aura Miguel ousou perguntar-lhe o que é que um jornalista deve fazer para exercer bem a profissão e recebeu dele, após alguma reflexão, a resposta “discernir”.
Discernir é de facto o que importa saber fazer em todas as circunstâncias da vida. Seja nas definições das prioridades que um Papa também tem de assumir, seja na actividade de um jornalista, seja nas opções de qualquer empresário da Construção e do Imobiliário, seja na acção de qualquer cidadão. Discernir, com alguma emoção, mas com muita lucidez e razão.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
luislima@apemip.pt
Publicado dia 4 de Junho de 2011 no Jornal de Notícias