Há políticos cujo nome e acção ultrapassam as estreitas condicionantes das famílias políticas a que pertencem. Justa ou injustamente, Willy Brandt ou Helmut Kohl, para incluir também um democrata cristão como Dona Ângela Merkel, foram chanceleres da Alemanha realmente reconhecidos como líderes da Europa e líderes prestigiados capazes de contribuir para a afirmação da própria Europa num quadro de construção europeia.

Noutro país muito importante para a Europa de sempre e de hoje – na França –, basta lembrar o general De Gaulle ou François Mitterrand para que a imagem do actual presidente, Nicolas Sarcosy, saia com menos força e menos brilho, mesmo tempo em conta a força e o brilho que a actual esposa de Sarcosy, a modelo e cantora italiana Carla Bruni, lhe empresta.

Sem recuar ao tempo de Winston Churchill, como primeiro ministro do Reino Unido, bastará evocar o nome de um outro político europeu – Olof Palme – para reconhecermos uma dimensão política invulgar que se impunha até junto de muita gente que não perfilhava a mesma ideologia de clara matriz social-democrata.

Seguramente nem Palme, nem De Gaulle, nem Mitterrand, nem Brandt, nem Kohl diriam, como recentemente disse Angela Merkel que os portugueses, os gregos e os espanhóis gozam mais férias que todos os outros europeus e vão para a reforma mais cedo, quando na verdade isso não é verdade e os alemães que Dona Merkel representa até trabalham menos horas por ano e vão mais novos para a reforma do que nós, segundo fontes europeias que a chanceler alemã reconhecerá como fiáveis.

A falta de rigor de Dona Ângela não é preocupante, pois é fácil demonstrar que a senhora está enganada, mal informada e que talvez até só disse aquelas inverdades para botar figura numa campanha eleitoral interna que, nem assim, lhe correu de feição. O que é preocupante para os cidadãos europeus, incluindo o empresários do sector da Construção e do Imobiliário, é que a Europa esteja limitada a políticos desta pouca grandeza, num momento tão difícil como o que estamos a atravessar.

Refiro-me, neste plural, a nós, aos portugueses, aos irlandeses, aos gregos, aos espanhóis, aos italianos, aos franceses, aos belgas, ou seja, a todos os europeus dos países da moeda única e também aos europeus dos países da União Europeia e até aos países europeus que nem aderiram à moeda única nem à União Europeia. Ou pensará Dona Ângela Merkel que ela e os alemães vão conseguir passar por entre os pingos de chuva sem se molharem?

 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado dia 1 de Junho de 2011 no Público Imobiliário

Translate »