Não é certo que, só um crescimento económico forte e sustentado possa criar emprego para as gerações mais novas. Se não encontramos uma solução socialmente aceitável para oferecer emprego ao exército de jovens que marca passo à porta do mercado de trabalho, estes, dificilmente vão perdoar-nos este nosso erro histórico.
A chamada geração mileurista (que entre nós é mais quinhentos-eurista, pois em Portugal a remuneração média dos jovens que conseguem emprego anda mais próxima dos 500 euros do que dos 1000 euros) está cheia de jovens com títulos académicos, licenciados e mestres, cujo denominador comum é a ausência de perspectivas.
A situação é tal que, até já inspirou uma canção dos Deolinda, uma banda de sucesso, canção que fala dos jovens que estão à rasca (não confundir com geração rasca) e que vivem na casa dos pais, sem perspectivar casamento ou outra situação autónoma de futuro.
Na letra dos “Deolinda” a canção é particularmente amarga quando a cantora diz “que já é uma sorte poder estagiar”, neste “mundo tão parvo // onde para ser escravo é preciso estudar”. Sinal da importância desta realidade foi o êxito, inesperado até para esta banda musical portuguesa, que a canção – “Que parva que eu sou” – obteve desde a estreia.
Este fenómeno – que cínica e imprudentemente se justifica pela falta de experiência dos jovens como se estes alguma vez pudessem ganhar experiência sem oportunidades de trabalho – não é só nosso, o que em parte ajuda a antever os perigos que a sua longa duração pode gerar.
Os jovens que protagonizaram as chamadas “revoluções de veludo”, na Tunísia e no Egipto, são os mesmos que, num passado muito recente, se revoltaram nos subúrbios de Paris, incendiando carros e desafiando as autoridades. São, na essência, jovens desempregados sem acesso ao consumo a que a sociedade que lhes nega emprego permanente, apela.
Que futuro se oferece a quem, jovem e preparado pelas escolas que os adultos lhes impuseram, não consegue trocar a sua força de trabalho pelos bens de consumo a que legitimamente aspira? E que futuro oferecemos a quem apenas consegue sobreviver? Reconheço que, esperar por um crescimento económico suficientemente forte e que crie mais postos de trabalho não é solução que se adivinhe para breve.
Isto é também válido para Portugal, onde, apesar da proliferação dos call center’s, a taxa de desemprego entre os jovens anda perto dos 20%, e exige uma reflexão séria, sem ilusões feitas, se ainda quisermos ser perdoados por esta perigosa negligência que põe em causa a própria sociedade em que acreditamos e queremos viver.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 4 de Março de 2011 no Sol