A Casa da Música do Porto encomendou um software, de nome Orelhudo, que distribui nas escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico para proporcionar aos alunos, a audição diária de 90 segundos de um trecho musical, legendado por um texto simples explicativo do que é dado a ouvir, rotina que inevitavelmente criará, a médio prazo, públicos preparados para a fruição da música. É uma aposta inteligente e de visão a médio e a longo prazo.

Tive conhecimento deste programa sensivelmente ao mesmo tempo que li a notícia sobre os projetos prioritários de investimento para os próximos sete anos, de acordo com a proposta de documento estratégico para esta área elaborado por um grupo de trabalho que o governo nomeou para este efeito. Uma notícia esperada de onde destaco uma ideia que me deixa preocupado e que, a meu ver peca precisamente pela falta de visão a médio e a longo prazo – a ideia de que se pretende dar mais importância à carga e às mercadorias do que aos passageiros.

Sendo o turismo, nomeadamente o turismo residencial, um dos comboios seguros para embarcarmos rumo a uma agenda de crescimento e de desenvolvimento, em diálogo constante com a Reabilitação Urbana, num quadro de incremento do mercado de Arrendamento Urbano, como destino de muitos investimentos e poupanças, sendo o turismo uma das componentes deste desafio, relegar os passageiros para segundo plano é inviabilizar aquela visão de futuro que tanto gostamos de apresentar, acreditando que ela é mesmo necessária.

Mercados imobiliários que sofreram desregulações brutais, antes e depois da crise financeira desencadeada em 2008, como aconteceu nos mercados imobiliários dos Estados Unidos da América e de Espanha, ambos exemplos clássicos de bolhas imobiliárias exageradíssimas, mercados imobiliários com estes problemas estão já a olhar para o regresso do sector imobiliário como um dos motores para o crescimento e para o desenvolvimento. Por maioria de razões, nós, por cá, que não tivemos nada que se parecesse com aquelas bolhas, devíamos estar já lançados na fase que os outros agora anunciam.

É preciso um “orelhudo” para tudo, ou seja, é preciso ver sempre mais longe, ter uma visão global e globalizante, sem a qual podemos confundir investimentos com gastos e, pior do que isso, inviabilizar soluções que podem e devem contribuir para que sejamos capazes de gerar riqueza suficiente para honrarmos os nossos compromissos satisfazendo, ao mesmo tempo, as nossas necessidades colectivas, próprias de um Estado de Direito e Social como queremos e julgamos que o nosso possa ser.

Como já tive oportunidade de dizer nestas mesmas páginas, em Portugal, o imobiliário readquire a vocação de investimento seguro para quem quer substituir investimentos que se revelaram mais voláteis e readquire o papel de complemento para reformas cada vez mais apertadas. Aqui, como noutras paragens ´imobiliário é parte importante da economia mundial, e continuará a sê-lo, acauteladas que estejam as tentações especulativas que algumas economias, que não a nossa, ensaiaram, neste sector, em passados bem recentes.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 03 de fevereiro de 2014 no Jornal i

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