Mesmo que o tempo convide a uma certa despreocupação, como se o Sol, o calor e o mar fossem, só por si, razões suficientes para que nos possamos sentir felizes, é preciso identificar o local onde estamos a travar, quase sem nos apercebermos disso, a decisiva batalha do financiamento da nossa Economia. 

Hoje, como ainda há pouco tempo sublinhei, o paradigma da guerra e das batalhas está a mudar, nomeadamente nesta velha Europa, e os principais conflitos desenrolam-se nos cenários económicos, sendo as vitórias alcançadas pela capacidade que as nações possam ter, ou não, de gerar riqueza e de a dividir.

Isto passa, entre nós e mais do que nunca, pelo financiamento das empresas, condição indispensável para a recuperação económica de Portugal, se quisermos, como todos dizem querer, manter o Estado de Direito e o Estado Social que faz parte da matriz da Europa.

O financiamento das empresas de um país está para a Economia como o fluxo sanguíneo para a vida humana, principalmente em tempo de sacrifícios, tempo difícil que não poderá deixar de ser vivido na certeza de que importa recomeçar a crescer, tarefa que depende das empresas e da vitalidade que possam manter.

Uma empresa – não me canso de repetir – tem a obrigação de dar lucro para continuar a prestar serviços ou a produzir bens que sejam úteis à sociedade e assim assumir a função social a que está obrigada, no compromisso entre o direito à propriedade e os limites que a sociedade impõe ao uso dessa mesma propriedade.

Desta maneira de estar em sociedade resultará, num clima saudável, a criação de postos de trabalho, outra das funções sociais das empresas num quadro de economia de mercado como é aquele que marca as modernas democracias tal como as queremos viver no Ocidente.

Isto é particularmente válido para as mais jovens empresas,  nomeadamente pequenas e médias, que são as que mais remam contra a maré em matéria de inovação e criação de emprego, mas aplica-se também às demais empresas, já muito cansadas de viver dificuldades de tesouraria em momentos críticos para as empresas como são sempre os meses de férias de Verão.

Ignorar esta realidade é transformar a rentrée de Setembro num não regresso para muitos, da desolação e no desespero do desemprego para outros que será o pior cenário para todos se o país perder essa batalha em curso pelo financiamento da nossa Economia.

E não importa justificar os apertos nesta matéria com a imposição  externa sobre as instituições financeiras a determinar um rácio crédito/depósitos muito mais apertado. Esta política poderá resolver problemas que afectam o Sistema Financeiro mas este não sobreviverá sem a Economia real e esta depende de outras opções em matéria de financiamento.

Mais do que justas – recorde-se sem qualquer sombra de pecado – pois é sempre com os dinheiros públicos, gerados na Economia real, que os sistemas financeiros são alvos, nos momentos de maior aperto. Para bem de todos, entenda-se, o que não invalida que esteja na hora do sistema financeiro retribuir.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 20 de agosto de 2012 no Jornal i

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