As democracias dos países desenvolvidos e em desenvolvimento consolidam-se melhor pelo acesso generalizado à propriedade imobiliária. Ter casa própria é, de tal forma, um sinal exterior do estatuto social das classes sociais que sustentam as democracias, que conhecer a percentagem que o crédito habitacional representa no PIB de um país é fundamental para radiografar a realidade económica desse mesmo país. 

Em 2009, este valor foi, no exemplo do Brasil, de 3% do PIB, projectando a economia emergente que se consolida nesta âncora da América do Sul, país cada vez mais poderoso no próprio Mundo ocidental.

A força das democracias ocidentais também se revela pelo crescimento da chamada classe C, denominada classe média popular, fatia da pirâmide social que, num país de economia emergente como o Brasil está crescer e a tornar-se maioritária, ao inverso do que se desenha, perigosa e actualmente, em Portugal.

Este potencial regresso forçado às classes menos favorecidas como são as D e E, num êxodo cada vez mais visivel entre nós, pelo aumento do desemprego e pela perda brutal dos rendimentos por parte da classe média, desenha uma contínua regressão do processo de crescimento económico, numa inversão rumo à pobreza. Regressão perigosa para as democracias que não se alimentam apenas das liberdades cívicas e políticas.

Quando não é acompanhada de uma melhoria das condições económicas das populações ou quando sofre vicissitudes tais que, a classe média corre riscos de extinção, a Democracia enfraquece ao gerar fossos profundos entre o topo e a base da pirâmide social, com todas as inerentes consequências negativas para o desenvolvimento dos paises assim atingidos.

O brutal aperto que está a atingir a classe média portuguesa – agora até impedida de deduzir em sede de IRS despesas, como as inerentes aos créditos para habitação, a que se obrigou num tempo em que tais deduções existiam sem perspectivas de que viessem a acabar – esse brutal aperto, que não augura nada de bom para o futuro, tem de merecer, com urgência, algum alívio. Sem este alívio, o país pode não aguentar.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

(luis.lima@apemip.pt)

Publicado no dia 17 de Setembro de 2011 no Jornal de Notícias

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