Uma instituição bancária que promove, em iniciativa apresentada com as cores do Verão, uma significativa campanha de recolocação de imóveis por valores autodenominados de atrativos e apresentados como traduzindo descontos relativamente aos valores de mercado, terá a esperança de, assim, poder livrar-se de uma centena de ativos indesejáveis mas não está, seguramente, a defender o mercado nem o Património Imobiliário.

Se acrescentarmos a isto a vontade expressa de promover esta campanha da centena de imóveis com grandes descontos junto de uma potencial procura externa, podemos concluir que esta objetiva desvalorização da riqueza que as famílias e as empresas portuguesas foram acumulando em investimentos no setor imobiliário, beneficiará em especial quem espreita e sonha com oportunidades destas.

Um benefício relativo – é bom sublinhar – pois está lógica da desvalorização do património, em nome da rápida recolocação dos ativos recebidos em dação, contagiará o próprio mercado, desvalorizando-o à imagem das desvalorizações das bolhas (que não existem entre nós) e gerando um inevitável efeito boomerang que se traduzirá em sucessivas dações e em sucessivas campanhas, cada vez mais em conta.

É precisamente isto que temos a obrigação de travar. Inteligentemente como o fazem já grandes instituições financeiras portuguesas, algumas das quais com mais de cem imóveis em carteira na rubrica dos imóveis recebidos em dação. É que, alinhar na venda ao desbarato do património “herdado” é sempre má política – iniciada esta prática o mercado irá demorar muito tempo a regressar aos valores normais.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 28 de julho de 2012 no Expresso

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