Ressalvando que os Estados não se gerem como as famílias, desde logo pela diferença que resulta do chamado efeito de escala, no nosso caso a multiplicar por quatro milhões e meio de famílias, tenho de reconhecer o didatismo de uma parábola sobre as nossas contas públicas que recentemente li e que se baseia num ficcionado caso de família tornado público na crónica.

Nessa narrativa, certo dia, um pai de família chega a casa e, reunido o plenário familiar, anuncia com pompa e circunstância o suposto feito de ter adiantado uma dívida da família, pagando parte antecipadamente, numa opção que muito o satisfaz e orgulha mas que parece não encontrar idêntico entusiasmo por parte dos familiares.

Uma das filhas, a mais nova, ousa até questionar o pai perguntando-lhe se ele tinha conseguido tal feito à custa do corte das mesadas dos filhos, do corte nos abastecimentos da mercearia, do talho e da peixaria, de menos eficazes e atentas soluções em matéria de saúde e de educação e da anulação pura e simples de quaisquer idas ao cinema ou outras incursões supostamente desnecessárias?

Voltando a sublinhar que os Estados não são geridos como as famílias – mesmo considerando alguns mitos de má memória nesse sentido -, é bom recordar que num Mundo global, onde quase todos os países, nomeadamente todos os países desenvolvidos, têm dívida pública, não estando em questão o pagamento de tais dívidas, devem estar as condições com que tais pagamentos se fazem.

Especialmente quando, no contexto dos blocos económicos, como o da União Europeia, os juros das dívidas e as condições dos respectivos pagamentos não são iguais para todos, sendo aliás muito mais favoráveis para aqueles que mais beneficiam da existência de um espaço de livre circulação de mercadorias como aquele em que nos integramos.

Sem querer incendiar as opiniões que estão a ver-se gregas para encontrar um equilíbrio mais justo desta questão central para os mercados, é bom que olhemos com maior atenção para os efeitos de certas curas que em vez de curarem como se julga podem matar, orgulhosamente.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 23 de Fevereiro de 2015 no Diário Económico

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