A retórica belicista que renasce na Península da Coreia, entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, não é única que devemos recear, embora esta talvez seja a mais tensa e grave de todas quantas estão a ganhar força. Aqui há armas nucleares prontas a serem utilizadas, com todo o potencial de horror, morte e destruição que um tal conflito geraria.
Mas os efeitos indesejáveis de uma guerra total como seria a que corresponde à retórica belicista do regime de Kim Jong-un, recém chegado ao Poder em Pyongyang, não são exclusivos das armas nucleares sendo também de temer outras retóricas belicistas, como, por exemplo, a que também tem vindo a afirmar-se em Moçambique.
Neste país da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, que soube, há 20 anos, encontrar os difíceis caminhos da paz, uma paz que, nos últimos tempos, consolidava-se com a abertura económica e com a captação de muitos investimentos, neste país a retórica belicista, mesmo sem armas nucleares, pode ter efeitos devastadores.
Só a paz pode gerar desenvolvimento pois só em estabilidade é possível alcançar esse mesmo desenvolvimento. Ao invés dos dias de declarações de guerra, os dias das declarações de paz marcam o tempo da esperança, um tempo de livre circulação de pessoas, um tempo de reconstrução, um tempo propício à satisfação das necessidades das populações.
Também a pensar em Moçambique e na situação assustadora e preocupante que se vive no país, a fazer fé nas declarações impensadas que se cruzam sobre esta questão, dizia que só em paz podemos encontrar soluções capazes de gerar riqueza, emprego e mais bem estar para toda a gente. Só em paz – dizia e repito aqui – é possível prestar às populações os serviços exigíveis para uma efetiva qualidade de vida.
Isto traduz-se no abastecimento de água potável e de energia, em redes saneamento básico, na construção de habitações condignas ou em espaços onde possamos receber bem aqueles que nos visitam por bem e ajudam a desenvolver uma industria rica que só floresce na paz – o turismo. É que a paz, ao contrário da guerra, é o patamar que atrai investimentos, como aliás Moçambique tem sabido captar.
Seria realmente desastroso para os estrangeiros que têm sido cativados a apostar neste país com futuro da África Austral e, principalmente, para os próprios moçambicanos que a paz tão duramente alcançada em 4 de Outubro de 1992 voltasse a desfazer-se e com ela todos os sonhos da reconstrução nacional.
“É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vidas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras”, dizia o Padre António Vieira num do seus mais célebres sermões.
“É a guerra – prossegue Vieira – aquela calamidade composta de todas as calamidades em que não há mal algum que ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro: – o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela, e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro”.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP –
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 15 de abril de 2013 no Jornal i