Infelizmente, e como tenho vindo a dizer desde que as portagens foram aplicadas nas antigas SCUT’s, a decisão de fazer com que os estrangeiros que nos visitem utilizando automóvel paguem, especialmente da forma excessivamente burocrática como têm de o fazer, está a revelar-se profundamente lesiva para o nosso turismo.

Que nós, portugueses, tenhamos de suportar esses novos pagamentos, inicialmente imprevistos como o próprio nome das estradas (Sem Custos para o UTilizador) indicava, entende-se. Mal, mas ainda dá para entender. O que já não se percebe é que esse castigo seja aplicado aos estrangeiros, que nos visitam.

O que se ganhará com estas intolerantes taxas a cobrar a estrangeiros não compensa o que se perde em desistências de visitas a Portugal. O país poderá ganhar uns tostões mas está a perder milhões. Qualquer estrangeiro deixará muito mais do que gasta na portagem na primeira paragem numa estação de serviço.

Tão grave como a quebra de turistas que tal impensada medida está a gerar, quer a Norte quer no Algarve, é a imagem desmotivadora numa Europa de livre circulação de pessoas e bens que Portugal transmite quando força, nas fronteiras, os turistas estrangeiros a longas filas para comprar as portagens pré-compradas.

Reafirmo o que já disse há muito, ainda na vigência do anterior Governo, sobre esta matéria. Reavaliar a situação, tendo em vista a adopção de isenções a este pagamento, seria uma medida inteligente. Pelo menos para os automóveis com matrícula estrangeira, sem esquecer a população local e os chamados utilizadores frequentes, pelo menos em parte.

Às quebras no turismo cresce o preço  o Estado pagará, a médio prazo, pela fuga de automobilistas nacionais para as estradas secundárias, de menor segurança e consequente maior risco. Um preço não facilmente contabilizável mas seguramente muito elevado e que também não ajuda a entender a bondade da adopção das portagens virtuais nas SCUT. 

Como em tempos disse, ver um pouco mais longe deve ser uma das virtudes da política. Recusar ver ou enfiar a cabeça na areia, como a avestruz, julgando que desta forma não vê nem é vista, é a atitude errada, pouco aceitável e, pior ainda, a que piores resultados gera. Emendar o erro é a única saída possível, sem qualquer constrangimento.

Se a situação testemunhada nestas mini-férias da Páscoa se mantiver no Verão, o turismo deixará de ser, entre nós, uma fonte de riqueza para se transformar num sector que irá contribuir ainda mais para a nossa já bem elevada taxa de desemprego. O que já não pode ser classificado de danos colaterais.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 11 de abril de 2012 no Público

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