As diferenças existentes no sangue da população humana, que determinam os grupos ou tipos sanguíneos, descoberta que valeu, em 1930, o prémio Nobel ao cientista austríaco Karl Landsteiner, explicaram a razão pela qual alguns doentes morriam após transfusões de sangue e outros não, por razões exclusivamente relacionadas com as características do sangue.

Menos diferenciado é o “sangue” que faz viver as empresas, especialmente aquelas que se assumem como as células vitais de um tecido empresarial que, à escala de cada país, tentam renovar-se, reinventando projectos que possam gerar crescimento e contribuir para a convalescença da nossa Economia. Refiro-me ao dinheiro, ao capital, à fonte indispensável de financiamento.

Temos vindo a registar os sucessos de alguns sectores da nossa Economia, como por exemplo o do calçado, a impor-se no estrangeiro pelo seu design, e a contribuir para o aumento, também ele vital, das nossas exportações, mas também temos ouvido e lido muito sobre a dificuldade que as nossas empresas encontram para se financiarem de forma saudável.

As restrições que a banca é obrigada a impor em sede de concessão de crédito – em grande parte pelos critérios apertados que o memorando da Troika lhe legou – estão a privar muitas das nossas empresas, especialmente as pequenas e médias empresas cujas fontes de financiamento são escassas, não possuindo os estratagemas das grandes empresas.

Por uma dramática ironia, as grandes empresas, também com dificuldade de aceder ao crédito bancário, possuem outras vias de acesso às transfusões vitais de dinheiro, às vezes até retardando pagamentos devidos a pequenas empresas com as quais têm negócios ou esmagando os preços que devem pagar em nome de um pagamento atempado.

O problema é que, este ciclo da falta de crédito ameaça tornar-se num ciclo vicioso que sufoca a nossa Economia, gerando uma recessão ainda maior que, a médio prazo, atingirá tudo e todos, incluindo os grandes grupos que se iludem, pensando que conseguem sobreviver esmagando os mais fracos. Sem estes, estejam eles onde estiverem, no tecido empresarial, no público consumidor, a sobrevivência é impossível.

Estamos, de facto, todos no mesmo barco, embora alguns pensem que não. Em matéria de sangue, estamos todos no mesmo barco. Eis um problema que tem de ser encarado seriamente.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt 

Publicado no dia 07 de Outubro de 2011 no Diário de Notícias

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