Numa leitura gráfica da situação que o mercado imobiliário português está a viver, a imagem de uma casa a emergir de um mar revolto está próxima do momento fotográfico do sector – esteve quase a afundar-se mas volta a emergir, ou seja, a sair das águas pouco claras que o tentavam afogar.

Nestes tempos difíceis, tudo aquilo que contribuía para a desvalorização forçada do património imobiliário estava claramente a afundar o setor e a empobrecer Portugal e os portugueses. Até as vozes que insistiam na existência de uma inexistente bolha imobiliária e o medo que estes agoiros provocavam.

O que se escondia nesta ofensiva era a vontade de querer comprar uma enorme riqueza a preços de favor. Quem desdenha quer comprar, diz a sabedoria popular com razão, antes de saber que existem fundos imobiliários apostados na desvalorização do nosso património, a prometer rentabilidades superiores a 25%.

O destino de uma riqueza que custou tanto a acumular, e que foi sendo construída com muitos sacrifícios por parte de muitas famílias, traçava-se ainda mais negro quando, perante dificuldades esperadas, começou a instalar-se a ideia de que a dação dos imóveis para resgate de dívidas difíceis poderia ser a solução milagrosa.

Ainda estão presentes os números brutais do volume de dações de imóveis no primeiro trimestre de 2012. Números esperançosos para os especuladores mas desastrosos para quem se sacrificou a adquirir casa própria, que começaram a inverter-se no segundo trimestre do corrente ano a registar menos 1300 dações de imóveis para resgate de dívidas.

Os valores do segundo trimestre ainda são altos (mais 9% do que no último período homólogo), mas é clara a tendência para a inversão do fenómeno, fato a que não será alheia a nova posição do setor financeiro, a recusar soluções que passem pela desvalorização artificial do património imobiliário, nomeadamente na hora de o revender, e a tentar travar o facilitismo das dações.

Como o prova o registo das minhas reflexões publicadas, sempre advoguei, muitas vezes a pregar do deserto, a criação de condições, por parte das partes interessadas, que evitassem o aparente facilitismo das dações de imóveis e o consequente acumular, nos bancos, destes ativos tão perigosos e indesejáveis. 

Opções capazes de travar a espiral de descrédito do património imobiliário, de evitar o desbaratamento desta riqueza das famílias portuguesas e de salvaguardar o próprio setor financeiro dos efeitos secundários, pouco saudáveis de uma situação desta Natureza.

Neste tempo de muitas inseguranças, de muitos medos e de muitas quebras de rendimentos para muitos portugueses, fazer emergir o imobiliário português, que foi o destino de muitas poupanças acumuladas com tanto sacrifício,  é o caminho certo do empenho que devemos ter na recuperação da nossa Economia.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 23 de julho de 2012 no Diário Económico

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