A Finlândia, aquele país encostado à ex-União Soviética, que elegeu como um dos temas das últimas eleições legislativas a suposta iniquidade, que seria participar em programas de ajuda financeira a países da Europa do Sul, como Portugal, a Finlândia, que vende a ideia que é lá que mora o Pai Natal, também já começa a sentir os sobressaltos desta crise que afinal não é só dos madraços do Sul.

Os finlandeses sabem bem o que é uma crise. Viveram-na nos primeiros anos da década de 90 do século passado, com um forte decréscimo do Produto Interno Bruto, aumento brutal do desemprego (mais de 15 pontos percentuais em 3 anos), falências de empresas, dificuldades de acesso ao financiamento, num cocktail que fez tremer o próprio Estado-Providência.

A implosão da União Soviética, país para o qual a Finlândia muito exportava, contribuiu mas não bastará para explicar aquela crise finlandesa, tanto mais dura quanto a atingir um país cuja população julgava viver num dos paraísos da Terra, completamente imune aos flagelos dos países e povos mais pobres, como os do Sul, os flagelos do desemprego e das desigualdades sociais. 

Vinte anos depois, e após uma recuperação iniciada a meio dos anos 90, recuperação que não devolveu o esplendor dos bons velhos tempos, a Finlândia volta a estar na mira de quem mexe os cordelinhos que fazem aumentar ou diminuir o descrédito económico e financeiro dos países, como aliás estão todos os países europeus, do Norte e do Sul, sem excepções.

Na verdade, há 20 anos como hoje, o que verdadeiramente está em causa é a manutenção, num plano elevado, dos padrões de vida de uma Europa cuja matriz, desenhada a partir da II Grande Guerra, fixou-se na oferta civilizacional dos Estados-Providência, onde além da salvaguarda dos Direitos Humanos há também a garantia, à nascença e para todos, de um conjunto mínimo de direitos socais, mormente no campo da Educação e da Saúde. 

Encontrar as soluções para a crise sem baixar este padrão civilizacional, o mais elevado em todo o Mundo e o que ainda determina o enorme factor de atracção que o velho continente exerce sobre as populações não europeias, é o grande desafio que se coloca à Europa, ou seja, aos seus dirigentes políticos, e é um teste decisivo para aferir se os políticos que temos são ou não estadistas.

E a primeira condição para superar estes desafios é que, a Europa se una e não se distraia em lutas fratricidas, sejam desencadeadas pelo que se julga melhor do que os outros por ter arrendado um pinheiro ao Pai Natal seja pelo que pensa que ter mais cortiça do que os outros é que vale, seja lá pelo que for. Este ano temos de enfeitar um sobreirinho de Natal bem grego.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 16 de Dezembro de 2011 no Sol

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