Fico preso a uma reportagem de um canal de televisão aberto ao ver dois jornalistas – um da Imprensa escrita e outro da Televisão – a conversarem, numa piscina vazia de um empreendimento turístico inacabado, sobre o Algarve no Inverno, ou seja, em plena época baixa e num quadro influenciado pela crise financeira mundial que está a retrair a procura turística, interna e em alguns mercados tradicionais.

É inegável que há empreendimentos turísticos que estão por acabar, que há hotéis que não abriram neste Inverno e que há uma oferta residencial e hoteleira a que falta procura, mas o retrato do Algarve no Inverno não se esgota na piscina sem água deste ou daquele complexo turístico que está por concluir e com sérias dificuldades em assegurar essa desejada conclusão.

Mesmo neste Inverno a tantos títulos frio, em alguns aspetos quase gelado, o Algarve continuou a ter oferta de qualidade com procura e isto também faz parte do retrato desta região turística por excelência. A fronteira entre um denominado Algarve de sonho e o pesadelo de algumas opções turísticas não conseguidas (ou ainda não conseguidas) não é tão ténue como podíamos ficar a pensar.

Embora compreenda a lógica das reportagens jornalísticas assente na velha ideia de que os melhores ângulos são aqueles que podem ser enquadrados de uma forma mais negativa, sou obrigado a sublinhar, em nome de uma visão global e integrada de qualquer realidade que queiramos reportar, a existência dos exemplos positivos, se os houver, pelo simples facto de existirem e de poderem contagiar os menos bem sucedidos.

Nem todos os investimentos mal avaliados estão condenados a um insucesso irreversível e nem todas as situações limite desta realidade têm necessariamente de ser a regra. Importa nunca perder de vista essa visão total e integrada de um mercado tão complexo como é o do turismo residencial, considerando todos os vetores que devem condicionar uma avaliação rigorosa, urgente e necessária.

Mesmo com empreendimentos por concluir e sem perspetivas de conclusão rápida, o Algarve está longe de sofrer dos males que atingem o congestionado turismo do Sul de Espanha, carecendo – isso sim – de definições estratégicas claras capazes de melhor enquadrar as iniciativas, maioritariamente privadas, que aceitam os desafios que os potenciais bons negócios podem oferecer.

Esta visão enquadrada, global e integrada que o Turismo do Algarve merece, quando e se assente em projetos não especulativos, é a mesma que se exige quando falamos do Aeroporto de Beja como um investimento nacional localizado no Alentejo e não lhe negamos condições para cumprir os desafios em nome dos quais foi construído. Reconheço que não se percebe bem, como também vi noutra reportagem, que a ligação ferroviária de Beja a Lisboa pouco difira da que poderia existir no século XIX.

Também o Aeroporto do Porto foi muitas vezes acusado de ser um elefante branco e hoje é um dos melhores aeroportos médios da Europa e uma vantagem para o país e para o Norte.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP –
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa.
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 28 de janeiro de 2013 no Diário Económico

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