Os riscos permanentes de recessão que se vivem desde 2008, em todos os países da Zona Euro, embora a níveis diferentes, a questionar até o mundo financeiro em algumas das linhas de força que o caracterizaram em passados recentes, aliado ao também permanente agravamento do desemprego a que se junta um abaixamento da retribuição do trabalho, tudo isto, apimentado pela diminuição dos investimentos, está a acentuar  desigualdades e a gerar mais pobreza.

Se juntarmos a evidência da intervenção dos Estados no sector financeiro, com várias injeções de dinheiro retirado às receitas dos próprios estados, intervenção inevitável para evitar o colapso de muitos atores deste sector, em diversas localizações do mundo que vive nas chamadas economias de mercado, e juntarmos ainda as receitas de austeridade com aumentos de impostos e ausência de investimento nas Economias, compreendemos melhor que estamos a criar o caldo que faz crescer a conflitualidade social e perspetiva ruturas difíceis de gerir.

Como muito bem disse o professor Marcelo Rebelo de Sousa, comparando a recente e significativa, pela mobilização conseguida, manifestação de 2 de Março com a também grande manifestação de 15 de Setembro, temos de aceitar que o país passou da esperança à desilusão, o que é particularmente grave, e envelheceu exageradamente neste meio ano.

A marca desta manifestação de 2 de Março foi a do envelhecimento do universo que saiu à rua. No sentido real, pois foi visível o peso dos mais velhos, nomeadamente dos reformados e dos pensionistas, e no sentido figurado se quisermos, também por este aspeto, transmitir a ideia da evolução da esperança para a desilusão.

Com a quebra do emprego, com a diminuição dos rendimentos e com a austeridade, a clássica geração sandwich, a que correspondia a geração ativa chamada de sandwich por transportar os pais às costas e os filhos na bolsa marsupial, está a soçobrar e, o que é pior, a deixar de poder contar com os mais velhos, de cujas pensões e reformas tantas vezes saiu apoio para os mais novos em momentos de maior aperto.

Agora, que a austeridade também atinge, e de forma visível, os reformados e os pensionistas, essa válvula de escape que residia no apoio que os mais velhos davam, sempre que necessário e possível, aos filhos e aos netos, válvula de escape nestes tempos mais necessária do que nunca, esse apoio intergeracional e familiar está a ser impossível de prestar.

Recordo que a responsável máxima pelo FMI, Christine Lagarde, já dizia, há mais de um ano, que é necessário apostar no crescimento não para salvar este ou aquele país, à data a pensar na Grécia, mas para salvar o mundo de uma espiral económica recessiva. O diagnóstico está há muito feito mas a receita continua por aplicar.

Entre nós, todas as gerações querem um sinal de esperança que inverta a tendência para a desilusão coletiva que retira alegria e sentido da vida aos mais velhos, que envelhece precocemente quem está em plena idade ativa e que ignora ou escorraça os mais jovens.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado do dia 11 de março no Diário Económico

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