Eu, homem do imobiliário me confesso. O que, por estes dias, é mais ou menos sinónimo de pecado.

E, como homem do imobiliário que sou, a minha vontade é que este sector esteja na crista da onda por muitos e bons anos, pois tenho em memória recente as dificuldades que atravessámos entre 2009 e 2013.

Felizmente, ao contrário de muitos, a minha memória não é curta e recordo facilmente os obstáculos que todos enfrentámos, não só no Imobiliário, mas no País, que esteve ali bem agarrado num cerco de instabilidade económica e laboral, vendo os seus jovens e cérebros partir e acenando-lhes com lenços brancos.

Mas eis que, de repente, os olhos do mundo se põem em nós, e o Turismo em união de facto com o Imobiliário nos salvam das trevas e impulsionam a retoma económica do País.

Porém, memória curta a nossa, a insatisfação de ver as nossas cidades pejadas de turistas começa a ter honras de capas de jornais. “Turismofobia”, dizem, alegando que esses patifes que vêm para cá gastar o seu dinheiro estão a comprar tudo o que é património nacional. E Deus nos livre dessa corja que compra o que os outros não têm dinheiro para comprar, que reabilita o que os outros não têm dinheiro de reabilitar, que cria emprego que os outros não têm capacidade de criar, que lava a cara das cidades, como os outros não conseguem lavar. Tudo isto, imagine-se, como o seu próprio dinheiro e sem recurso à banca.

Nós, por cá, não damos muito valor a quem nos dá a mão, e à importância do equilíbrio. Ora estamos no 8 ora estamos no 80, tal é a dificuldade de conseguir estabilizar e ficar ali pelo meio, a desfrutar de um crescimento sustentável e sustentado.

E depois, aparecem os problemas, que são exatamente o paradoxo dos que existiam anteriormente. Havia casas a mais? Pois agora há casas a menos. Havia demasiada construção? Pois agora não há nenhuma.

As dificuldades habitacionais nas principais cidades do País dividem opiniões e emoções, mas é necessário ter cabeça fria e agir em conformidade. Bem sei que a ideia de colocar no mercado ativos que estejam devolutos é uma ideia complexa, que abre discussões, mas ninguém pense que isto se poderá fazer sem beneficiar, e bem, os seus proprietários. E o que está previsto na Lei de Bases proposta é que estas possam ser requisitadas, temporariamente, mediante indeminização pelo Estado ou Autarquias, atenuando um problema que é de todos.

As casas fechadas promovem a especulação, ficando ali à espreita do momento em que o mercado atinja o pico dos seus valores. Ao colocar estas casas no mercado, aumentar-se-ia o stock existente, e assim aliviar-se-ia os preços que se praticam.

A lei da oferta e da procura a mostrar-se uma vez mais igual para o Imobiliário como é para qualquer outro negócio.

Só que este é um negócio com muitas partes e emoções, com opiniões muito dispares entre si. E, uma vez mais, é necessário conseguir encontrar algo que entre nós é tão difícil encontrar: o equilíbrio.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

 

Publicado no dia 25 de abril no Jornal Público

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