Se um médico prescreve um antibiótico para debelar uma infeção grave, recomendando tomas de oito em oito horas durante cinco dias, importa cumprir o espaçamento das tomas e o período total, mesmo que o doente tenha a sensação da cura antes de esgotar o medicamento prescrito.

Sabemos, ou deveríamos saber, que interromper a administração do antibiótico é um erro pois a dose prescrita é para ser tomada na totalidade, sob pena desse remédio perder a eficácia em caso de uma possível recaída. Com doses ligeiras o agente da infeção torna-se mais forte em vez de sucumbir.

O inverso também é verdadeiro. Aumentar a dose do remédio não só não garante uma cura mais rápida como pode comprometer a própria cura. Qualquer remédio tem a chamada dose fatal, que é sempre uma overdose, uma quantidade a partir da qual o doente que a ingerir morre, sem qualquer hipótese de cura.

Não funciona nestas coisas com vida aquilo que na gíria dos materiais supostamente inertes, como o betão usado na construção civil, se denomina o coeficiente do medo, ou seja, a velha solução de fazer aumentar a quantidade de cimento e de ferro para garantir uma obra mais sólida e duradoura.

A Economia de um país é um sistema vital à sociedade desse mesmo país e comporta-se como tal. Prescrever regimes de austeridade pode ser a cura certa para alguma debilidade grave, mas a dose do remédio nem deve ser tão leve que possa provocar recaídas para as quais já não haja remédio eficaz, nem tão forte que seja uma overdose fatal.

Entre nós e reportando-nos às soluções que estão a ser encontradas para equilibrar as nossas contas públicas, fazendo descer os valores do défice, importa lembrar que a austeridade em excesso pode gerar uma recessão difícil de superar e transformar-se na overdose fatal que devemos, a todo o custo, evitar.

Até os vírus que se alimentam de vida parecem ter “inteligência” suficiente para parar de matar, antes de esgotar o “alimento”, como o provam as epidemias medievais, vulgarmente conhecidas por pestes, que não dizimaram a Humanidade apesar de não terem sido combatidas por medicamentos eficazes, então inexistentes.

A lição que a Natureza nos ensina diz-nos que não devemos errar na dose. Errar na dose, seja do que for, pode bem ser uma opção fatal. Isto é igualmente válido para as soluções que ensaiamos, tentando salvar a nossa Economia. Ir além da Troika ou até temer confrontar a Troika com esta evidência pode muito bem ser uma fatalidade.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 02 de março de 2012 no Sol

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