Por estes dias muitos de nós sentem-se um pouco escoceses, nestas vésperas do referendo sobre a independência da Escócia. Isto independentemente do resultado deste mesmo referendo, resultado que já será conhecido quando este texto for publicado mas não é ainda do meu conhecimento na hora em que o escrevo.

A vitória do sim terá consequências num determinado sentido, a do não noutro, mas a grande lição deste processo é que todos têm de contar, no caso unionistas e nacionalistas, e o ideal é ter a sabedoria de viver com os outros no respeito de todos – as vantagens da manutenção no Reino Unido, como desejam os unionistas, são as mais desejadas pela Europa, nomeadamente por Espanha, onde há vontades independentistas semelhantes, sendo também claro que a hipótese da independência dará aos escoceses maior capacidade de poderem decidir livremente o que julgam ser melhor para a Escócia, por exemplo em termos fiscais ou do Estado Social.

O sim, que corresponde ao caminho para a Independência e, nesta linha, à posição que rompe com a situação existente, ganha sempre mesmo que o referendo termine com uma maioria favorável à manutenção da Escócia no Reino Unido. É que a dinâmica do referendo e principalmente as sondagens a manter a incerteza dos resultados até ao fim, obrigaram os unionistas a prometer mais autonomia e a responder a alguns anseios da população, não antes equacionados.

Esta é a grande lição do referendo na Escócia. O que realmente pode acentuar a ruptura não é um sim ou um não, são as decisões assumidas sem ter em conta as sensibilidades das populações que vão ter de as suportar, prática muito comum em muitos recantos do Mundo, União Europeia incluída, e prática responsável pelo acentuar de divisões (sempre menos promissoras do que as uniões) não apenas entre povos mas também entre diferentes sectores do mesmo povo.

Saber viver com os outros, saber conciliar, pela negociação transparente e razoável e pela auscultação séria, os interesses que legitimamente coexistem em cada território, é que é a grande prova de sabedoria para quem faz política, para quem quer ter sucessos nos negócios, para quem prefere a paz à guerra e para quem deseja realmente um desenvolvimento sustentado que beneficie a maior maioria possível.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
 

Publicado no dia 22 de setembro de 2014 no Diário Económico

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