Espanha, o único dos quatro países malditos que ainda está livre de uma intervenção externa (refiro-me aos Estados cujas primeiras letras dos respectivos nomes, em Inglês, formam a humilhante sigla do “economês” que é a sigla PIGS), a Espanha já vive, metaforicamente, o dia seguinte.
Portugal, Irlanda e Grécia – os restantes três países – todos, já “obrigados” a recorrer a ajudas externas que, em parte, condicionam, a própria vida interna na fronteira dos conflitos de interesse que se cruzam com a própria soberania dos povos, resistem mais à inevitabilidade das contingências do dia seguinte.
Por razões operacionais, a minha mais recente viagem a Espanha para assistir ao Salão Imobiliário de Madrid foi cumprida, à ida, num voo de uma companhia regional aérea de bandeira espanhola, mais precisamente num Bombardier CRJ 200, avião com capacidade para 50 pessoas.
O voo, de 50 minutos de duração, foi assistido por uma única hospedeira de voo que, sem nunca perder o sorriso e a simpatia que todos os passageiros esperam encontrar nas hospedeiras de voo, fez, sozinha, a contagem dos passageiros, lembrou os procedimentos a ter em caso de emergência, e distribuiu por todos os passageiros bebidas e uns aperitivos. Mais espartano só nas “low cost”.
Isto é, na prática, estar já a viver o dia seguinte, com o realismo e sentido prático que caracteriza os povos de Espanha e com a consciência de que os problemas são grandes e vão demorar algum tempo a ser superados, bem patente no exemplo da “hospedeira” do Bombardier CRJ 200 que, seguramente, preferiria dividir o trabalho com outra companheira mas não perdeu o sorriso por ter de o fazer sozinha.
Antecipar os problemas é uma vantagem clara e um dos segredos para, mais rapidamente, conseguir superar esses mesmos problemas. Esta atitude é, em qualquer sector, um dos pilares dos novos paradigmas que, por todo o lado, se ensaiam. Saber viver o dia seguinte antes que esse dia chegue, especialmente quando as previsões atmosféricas não são as melhores, é sempre um sinal de maturidade que devemos identificar e saudar.
Isto é válido na actividade comercial das viagens aéreas mas também noutros sectores, nomeadamente no da Construção e do Imobiliário.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado dia 7 de Junho de 2011 no Diário de Notícias