Estamos em pleno Verão  e não se vê uma réstia de Sol que aqueça os nossos mercados. Sitiados nesta ilha do euro, sob o fogo cruzado de muitos e fortes especuladores, tão fortes que até conseguem aliciar e organizar uma quinta coluna, recrutada entre nós, que não se cansa de dar tiros nos nossos pés, a Primavera já foi e este Verão é, metaforicamente falando, um autêntico Inverno.

Precisamos, com urgência, neste sector da Construção e do Imobiliário, de alguns sinais, ténues que sejam, a que nos possamos agarrar com esperança em dias melhores, insuflando a nossa esperança e confiança muito abaladas por algumas iniquidades conhecidas das quais destaco, em nome do meu direito à indignação, a persecutória actuação contra Portugal de agências como a Moody’s.

Até o presidente dos Estados Unidos da América, num desabafo proferido num momento de aperto face à incerteza de poder ou não honrar dívidas do Estado, deixou estalar o verniz diplomático e disse que a América não é a Grécia nem é Portugal. Barack Obama tem razão: Grécia e Portugal são dois países com História incomparavelmente mais rica que a dos EUA.Não desmereço o mérito do povo norte-americano e dos seus reconhecidos feitos civilizacionais, em especial no domínio das tecnologias, mas o Poder, nomeadamente militar, que esses avanços lhe conferiram como uma das duas grandes potências da Guerra Fria, não legitima aquela infeliz frase do actual presidente dos Estados Unidos da América.

Acresce que o Mundo nascido da cooperação que simbolicamente prevaleceu a partir da queda do Muro de Berlim não confirmou os Estados Unidos da América como potência única, na sequência da implosão da União Soviética, tendo, pelo contrário, revelado o nascimento de mais potencias emergentes o que parece dar uma maior garantia de equilíbrio global.

Infelizmente, no plano económico, a guerra instalada, muito mais gélida do que a Guerra Fria, ameaça o bem estar de milhares e milhares de pessoas, com efeitos colaterais gravíssimos em muitos países, como a Grécia e como Portugal que não podem ser os bodes expiatórios dos erros e das ganâncias de outros, de muitos dos que agora nos apontam o dedo.

Em nome do bom senso ignoramos, por vezes, insultos gratuitos, grosserias resultantes da falta de chá e até tentativas de humilhação.

Fazemo-lo pela necessidade que temos de preservar as condições necessárias para que possamos usufruir daquilo que precisamos e temos direito para construirmos o nosso próprio desenvolvimento.

Isto implica um justo acesso ao crédito junto de quem também acumulou riqueza e capital num contexto pouco transparente, por vezes especulativo, não raras vezes alicerçado no nosso próprio prejuízo, ao abrigo da regra, academicamente premiada, de que os mercados podem agir quase sem regras.

Outros caminhos e não o deste Verão que mais parece Inverno.

O degelo no nosso sector gerará confiança, emprego e vida à própria economia. Precisamos urgentemente de sinais que apontem neste sentido, no sentido do Sol e do calor. O contrário será a estagnação, um frio de rachar, o regresso às cavernas.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 20 de Julho de 2011 no Público

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