Há pouco mais de um ano, o investimento privado em Portugal, indispensável para o crescimento, era reconhecido como tímido e marcado por receios relativamente justificados. Toda a gente falava na mudança de ciclo económico e toda a gente associava este desafio a esse mesmo investimento.

Mas a fiscalidade sobre as empresas era, como ainda é, elevada e acima da média europeia, o que afastava investidores estrangeiros e refreava a já pouca apetência das empresas portuguesas em aumentar os respectivos investimentos em Portugal. Havia pouca procura de crédito em Portugal e poucos projetos de investimento,

Os políticos queixavam-se do sistema financeiro, que não estava a dinamizar quanto seria desejável a Economia, e alguns banqueiros lembravam que a grande iniciativa para fazer mudar o ciclo económico teria de pertencer aos políticos, nomeadamente aos políticos da Europa Central e ao banco Central Europeu.

Em Portugal, notava-se maior poupança das famílias que podem poupar, registava-se um aumento das reservas enviadas pelos emigrantes e o Estado conseguia boas receitas nas privatizações e até juros favoráveis quando recomeçou a ir financiar-se ao mercado.

Foi neste cenário de tímida recuperação que entramos em 2014, um cenário que, apesar da melhoria verificada, ainda não era tão favorável como se desejaria pois a situação está longe da existente noutros países da moeda única, no que toca aos juros das dívidas soberanas e dos empréstimos comerciais. 

Há sempre um lado mau e um lado bom em qualquer cenário. Ser bom ou ser mau não é condição exclusiva da certas instituições nem altera a natureza das situações e, muito menos, a necessidade incontornável de termos de enfrentar a situação seja ela qual for, com a disponibilidade para tudo refazer, no sentido de compor o que não pode deixar de ser composto.

Perante vicissitudes que, de todo em todo, ninguém ou quase ninguém esperaria, estar à altura da situação é não ceder ao que de imediato apetecerá fazer, ou seja, numa das nossas menos louváveis tradições, começar a encontrar culpados, nos outros, em vez de recomeçar a batalha da nossa recuperação.

Sem prejuízo do que tenha de vir a ser feito quando, serenamente, tivermos fundadas certezas do que realmente ocorreu, estar à altura da situação implica saber encontrar, com a urgência que a realidade pede, o caminho da esperança na nossa recuperação económica, um caminho onde não podem deixar de existir aqueles sinais mínimos de esperança nessa própria restauração.

Isto é particularmente importante para a esmagadora maioria das pequenas e médias empresas portuguesas, pessoas coletivas que no campo empresarial são o esteio da nossa Economia e o universo que pode oferecer emprego, segurança e riqueza de forma mais visível para a generalidade da população.

Estar à altura da situação é garantir que este universo, onde também se cruzam as pessoas singulares que canalizam de boa fé as suas poupanças para o esforço da dinamização da Economia, não serão ignoradas na hora de compor o que tenha de vir a ser composto começando, desde logo, por não lhes anular a esperança.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 22 de agosto de 2014 no SOL

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