Para descobrir os sentimentos dominantes neste final de ano e nas vésperas do ano em que Portugal deixará de estar sob ajuda financeira externa, tentei comparecer em todos os jantares de Natal institucionais para os quais fui convidado (só faltei, para pena minha, aos que coincidiam com compromissos inadiáveis) e pude, por esta via, identificar sinais muito esperançosos, nomeadamente saídas das instituições financeiras.

Um destes sinais é a vontade generalizada de evitar, a todo o custo, situações de ruptura, por parte de empresas em dificuldades, nomeadamente em sede de créditos concedidos para a promoção imobiliária, opção que travará no sector não residencial o enorme volume de dações de imóveis para pagamento de dívidas, à semelhança do que aconteceu relativamente ao crédito concedido às famílias para aquisição de casa própria.

Há um ano no Porto, num jantar de natal de uma prestigiada instituição financeira, o administrador presente, pessoa de grande sensibilidade sublinhava, como então aplaudi, a imperiosa necessidade de defender a classe média portuguesa, sem a qual não haveria, como não haverá, confiança para recuperar o que temos de recuperar. 

A confiança era, como continua a ser, uma das principais condições para que um país funcione, mas essa confiança fica profundamente abalada quando se multiplicam falências, de empresas e de famílias, e quando esta preocupante e triste realidade se traduz na entrega dos anéis tão ciosamente adquiridos, como são os do património construído.

O recurso, em momentos de aperto, à riqueza existente no património construído sempre existiu, mas notava-se menos, ou nem se notava, quando o mercado imobiliário funcionava com normalidade e era possível vender, a um preço equilibrado, uma dessas joias adquirindo-se assim a liquidez necessária para se recuperar o fôlego.

A situação mudou muito, desde finais de 2008, com o património construído a ter grande dificuldade em poder trocar-se por dinheiro “líquido”, num câmbio aceitável e em tempo útil para quem quer recorrer a essa reserva. Foi a quebra do mercado que fez aumentar nas instituições financeiras o stock de ativos imobiliários indesejáveis.

Inteligentemente, os credores mais realistas começaram, primeiro no segmento residencial das famílias, a antecipar o colapso, renegociando as dívidas e evitando assim muitas das situações de ruptura, opção que travou a espiral de dações de imóveis por parte dos particulares. A boa notícia deste Natal é que esta providência cautelar parece poder estender-se também aos clientes empresariais, o que, seguramente, evitará muita falência.

Eis uma boa prenda de Natal nestas vésperas do regresso de Portugal, sem tutelas, aos mercados – e com ela, a esperança da reativação do próprio mercado imobiliário, sem a distorção dos momentos de grande aperto. Um sinal positivo para o decisivo ano de 2014 que se aproxima.

Luís Lima

Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

presidente@cimlop.com

Publicado no dia 25 de dezembro de 2013 no Público

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