O social democrata que atualmente ocupa o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE),  um dos ministros com maior experiência do Governo, que já foi ministro da Justiça,  ministro da Defesa Nacional e vice primeiro-ministro, num Governo do Bloco Central presidido por Mário Soares e formado com base num acordo de incidência parlamentar entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, o atual MNE, Rui Machete só pode assumir as posições de quase dissidência que tem assumido deliberadamente.

O atual Ministro dos Negócios Estrangeiros, advogado que já foi administrador do Banco de Portugal e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento , entre outros lugares de destaque, pessoa que terá sido indicada ao primeiro-ministro  Passos Coelho pelo Presidente da República para substituir Paulo Portas no Palácio das Necessidades (a fazer fé em comentadores políticos geralmente bem informados), Rui Machete dificilmente dirá o que não quer dizer, mesmo se depois pode parecer o contrário.

As recentes declarações de Rui Machete sobre a fronteira, em matéria de taxas de juro para empréstimos a dez anos, que separa a necessidade da não necessidade de Portugal recorrer  a um segundo resgate são muito mais do que uma mera opinião do MNE português em torno deste tema, num momento muito particular para o nosso país, ou seja, pouco antes da Irlanda ter decidido que vai regressar aos mercados sem a almofada da proteção da Troika, que sai de Dublin já em Dezembro.

Isto é válido para este dossier do segundo resgate mas também, muito provavelmente,  para o dossier Angola, seguramente muito caro ao senhor Presidente da República, interlocutor privilegiado do presidente Angolano José Eduardo dos Santos, desde o tempo das negociações para a paz na guerra civil angolana, quando Cavaco Silva era primeiro-ministro de Portugal. E tudo isto pode mesmo indiciar uma sintonia mais forte entre Rui Machete e Cavaco Silva, do que entre Rui Machete e Passos Coelho.

É bom recordar que Rui Machete nestas suas declarações sobre a possibilidade de um segundo resgate fez questão de transmitir a ideia de que os portugueses e os partidos políticos vão encarar firmemente a possibilidade de evitar essa situação, que neste momento é evitável. E no que respeita aos atritos com Luanda registe-se que as investigações em curso contra altas figuras de política de Angola foram arquivadas sem que tenham dado lugar a qualquer acusação. Duas soluções que também terão agradado ao presidente Cavaco Silva.

Não sendo as gafes que alguns gostariam que fossem, não sendo também uma espécie de estrelinha da sorte que miraculosamente anulasse os potenciais maus efeitos colaterais de afirmações menos ortodoxas de Rui Machete, o atual Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal parece protagonizar uma estratégia de comunicação muito concreta e com um peso muito maior do que alguns, talvez até mesmo dentro do Governo, lhe atribuem. A política, às vezes, é mais complexa do que aquilo que alguns políticos pensam.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 22 de Novembro de 2013 no SOL

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