Em Portugal assistimos a um fenómeno quase bipolar, de oscilar entre o mais depressivo pessimismo e o mais eufórico dos otimismos.

Mas, como em tudo, é no meio que está a virtude e o equilíbrio é sempre a melhor receita, incluindo no mundo dos negócios e no desenvolvimento do mercado imobiliário, quer seja por via do mercado interno, quer seja através do investimento estrangeiro.

A retoma deste sector é uma realidade que se veio a afirmar deste o final de 2013, depois da criação de mecanismos de captação de investimento estrangeiro, que animou um sector imobiliário estagnado pelas repercussões da crise. 

A partir daí, o crescimento tem sido um facto inegável, não apenas pelo incentivo internacional, mas também pelo ânimo provocado pelo mercado interno que regressou à compra de casa, por diversos fatores: regresso do acesso ao crédito; investimento com melhor retorno (e mais seguro) no imobiliário em detrimento do sector financeiro; valores de empréstimo inferiores às rendas praticadas no mercado de arrendamento… 

Nos últimos dois anos, vimos um sector imobiliário crescer na ordem dos 50%, e para este ano perspetiva-se que as transações possam registar um aumento a rondar os 30%. 

Claro que este crescimento é um bom indicador, mas não podemos nem devemos deixar que a euforia se apodere do nosso estado de espírito, sob pena de perdermos a serenidade necessária ao equilíbrio de qualquer mercado. 

Nem oito nem oitenta. Não podemos nem devemos ter memória curta, e devemos ter presente que não há muito tempo o sector estava numa situação de dificuldade, a bater-se contra a estagnação, o encerramento de empresas e a combater a possibilidade da existência de uma bolha imobiliária pela desvalorização forçada dos ativos.

Felizmente, o sector teve uma segunda oportunidade, e hoje lidamos com uma perspetiva mais otimista, de crescimento do número de transações, sendo o ano 2017 apontado já como um dos melhores dos últimos anos. Mas esta euforia, faz com que muitas vezes os agentes do sector deitem tudo por terra por quererem ganhar tudo de uma vez, em vez de promoverem um aumento sustentado do mercado, que permita um crescimento estratégico pensado a médio/longo prazo.

Há uma boa onda no sector, mas não podemos nem devemos embandeirar em arco, porque ainda há espaço para crescer.

Ainda há espaço para crescer no mercado de Reabilitação Urbana, ainda há espaço para crescer no mercado do Turismo Residencial, ainda há espaço para crescer na internacionalização do mercado imobiliário, e ainda há um longo e provavelmente penoso a percorrer no Arrendamento Urbano.

Portugal tem uma oferta que se impõe, não apenas pela relação preço/qualidade, mas sobretudo pela excelência do nosso país enquanto país seguro e um bom porto para o investimento.

Mas, para que assim se mantenha, importa que tenhamos uma visão estratégica a pensar no futuro, e não no imediato. Tudo isto sem, naturalmente, um pessimismo que queremos definitivamente esquecer, mas também sem euforias excessivas que podem deitar muito a perder.

Luís Lima
Presidente da APEMIP
presidente@apemip.pt

Publicado no dia 24 de Maio de 2017 no Público

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