Tenho um amigo que prima pelo hábito de abrir sempre a melhor garrafa de vinho que tenha na garrafeira quando recebe outros amigos. Diz que não sabe quando vai morrer e, por isso, quer garantir que o vinho que cá vai deixar seja o menos bom. “O melhor vinho à frente, ao contrário do que aconteceu nas Bodas de Caná”, lembra, evocando aquele que o apóstolo S. João diz ter sido um dos primeiros milagres de Jesus.

Aos amigos, ele serve o melhor vinho disponível a acompanhar os melhores pratos possíveis e que melhor lhes possam agradar, na melhor baixela que disponha, pois – confessa frequentemente – não guarda serviços de porcelana e de cristal para incertas e nunca identificadas ocasiões especiais. Estas são sempre aquelas em que recebe amigos.

Na verdade, ter equipamentos que não se usam e que se resguardam sabe-se lá para quando, é uma atitude de adiamento crónico que impede que o nosso mundo pule e avance, como bola colorida entre as mãos de uma criança, para citar a “Pedra Filosofal” um dos poemas de António Gedeão, mais musicados de sempre, que ainda há poucos anos embalava muitos dos nossos sonhos.

Essa atitude de adiamento também está plasmada em opções, momentaneamente tentadoras, que  fazem com que boas estradas como as antigas SCUT percam utilizadores, pelos preços incomportáveis das portagens, e empurrem para estradas de menor qualidade e segurança muitos portugueses ou barrem a vontade de cá voltar a muitos estrangeiros que nos visitam de carro. Sem quaisquer milagres.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt 

Publicado no dia 04 de abril de 2012 no Diário Económico

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