Cruzei, há dias, com um dos grandes empresários da construção civil do Brasil e na conversa que mantivemos, ele, como brasileiro, fez questão, de forma muito simpática, de me elogiar a elevada qualidade dos muitos jovens engenheiros civis portugueses que tem vindo a contratar mostrando-se, por isso, extremamente satisfeito.

Em resposta, e salvaguardando o agradável que é saber que há compatriotas nossos que se impõem, pela qualidade, no estrangeiro, senti necessidade de lhe dizer que a satisfação dele era a minha grande tristeza. Portugal precisa e tem exportado mais e mais, mas há exportações indesejáveis, como é o caso da exportação da nossa juventude mais capaz.

Ban Ki-Moon, Secretário Geral das Nações Unidas, em recente visita a um país de língua oficial portuguesa, Timor-Leste, disse que “uma das melhores vias para fortalecer uma democracia jovem e dinâmica, é dar aos seus mais jovens cidadãos mais educação, pois esta proporciona empregos dignos e faz renascer oportunidades e esperanças para o próprio Estado”.

Não há, realmente, desenvolvimento económico digno desse nome e vocacionado para desenvolver a terra mãe de cada um se a aposta na educação e na elevação do nível cultural das populações não existir ou, existindo, como acontece em Portugal com grande esforço, estiver a ser canalizada para fora, materializando exportações indesejáveis.

Um dos exemplos mais clássicos nesta matéria, a Coreia do Sul, país que há 50 anos estacionava num patamar de desenvolvimento muito fraco, comparável ao atual patamar dos países africanos mais pobres e com conflitos internos, apostou na educação das populações, sem discriminação de género, e também no acesso a cuidados de saúde, transformando-se rapidamente numa das locomotivas asiáticas.

O crescimento económico e, por maioria de razões, o desenvolvimento sustentado implicam essa aposta na Educação e na formação académica superior dos mais jovens, como acontece em Portugal que forma, com custos muito elevados para o país, milhares de jovens que estão, infelizmente, a aplicar esses saberes no desenvolvimento de outros países.

Razão mais do que suficiente para que uma simples conversa de circunstância entre mim e um dos grandes empresários da construção civil do Brasil tenha dado lugar a uma troca de impressões mais aprofundada, o quanto baste, para que eu pudesse justificar ao meu interlocutor as razões pelas quais não me sentia satisfeito com a satisfação dele em poder contratar  muitos e bons jovens engenheiros civis portugueses.

Na ocasião, não disse que essa minha tristeza é a mesma que registo quando leio entrevistas a grandes nomes da arquitetura portuguesa e verifico que o discurso desses profissionais de referencia dirigido aos seus pares mais jovens vai no sentido de lembrar que não há obra em Portugal para eles e que eles, se querem crescer na profissão, terão de emigrar. Sei que esta realidade existe, mas também sei que temos de encontrar uma solução que estanque, sem limitar o desejo de crescer e de crescer também no confronto com o exterior, essa sangria da jovem inteligência portuguesa.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP  

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luislima@apemip.pt

Publicado no dia 17 de dezembro de 2012 no Jornal i

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