A opinião do presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, a alertar para os limites da austeridade em Portugal e para a urgência na adoção de incentivos à nossa Economia e à nossa competitividade merece toda a divulgação que lhe possamos dar.

O Dr. Ricardo Salgado lançou estes alertas num colóquio sobre pequenas e médias empresas recentemente realizado no Porto, onde também sublinhou que é fundamental que o Governo passe uma mensagem de confiança aos agentes económicos, o que não tem acontecido.

Esta reflexão de um dos principais banqueiros portugueses deveria chegar também aos ideólogos da Troika, cuja opinião e receitas económicas muito influenciam os nossos governantes numa tutela que às vezes parece exagerada e marcada pela ideia de que a austeridade é uma pomada milagrosa.

Voltando a utilizar as palavras do Dr. Ricardo Salgado, a austeridade, só por si, não resolve o problema da Economia portuguesa. Eu, que não assisti ao colóquio já referido e que cito estas opiniões pelo conhecimento que deles tive pelos midia, subentendo que terá também sido dito que esse remédio pode mesmo matar em vez de curar.

Numa referência diplomática às declarações do senhor primeiro ministro a responsabilizar a banca por alguma falta de apoio às empresas e às famílias, o Dr. Ricardo Salgado, considerando legítimas tais preocupações, lembrou que os bancos portugueses enfrentam muitos constrangimentos, alguns deles impostos pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional, as instituições que mandam na chamada Troika, o que exige “uma especial atenção à qualidade do crédito”, a conceder.

Estas reflexões do Presidente do BES foram proferidas quando ainda não eram conhecidos os contornos da resposta do Governo à necessidade de superar, no plano do Orçamento de Estado, as dificuldades geradas pela declaração de inconstitucionalidade de algumas medidas preconizadas para garantir o Orçamente apresentado.

Sabe-se já, embora não especificamente, que os apertos austeros vão continuar e no sentido de estrangular ainda mais a procura interna, nomeadamente numa fatia muito significativa da população, a dos funcionários públicos, cujo poder de compra, embora em média relativamente modesto, sempre contribuiu para movimentar alguma Economia, o que está a deixar de acontecer.

É curioso que nomes de economistas de renome como o nobel Paul Krugman continuem a criticar as estratégias europeias para superar a crise na zona euro, e digam, como já disse Krugman a propósito do anúncio de cortes na despesa pública em Portugal, para cumprimento das metas orçamentais, “Just Say Não”, sublinhando o “no” em inglês com o forte “não” da língua portuguesa.

A tentação de dividir o país em dois supostos blocos antagonistas – um de poupados e outro de esbanjadores – é um maniqueísmo perigoso que pouco ou nada contribui para a perseguida vontade de voltar a crescer economicamente. É do debate que estas duas posições extremas geram que podemos e devemos retirar uma solução, o mais consensual possível, para o nosso futuro. Para um futuro com futuro.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.pt

 

 

Publicado no dia 22 de abril de 2013 no Jornal i

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