Ramalho Ortigão, numa “farpa” escrita a propósito da Educação de um príncipe, lembra que, o conhecimento da Economia também exige o conhecimento das ciências que produzem riqueza, e ainda das matérias-primas e das fórmulas que as transformam.

Para Ortigão, saber de Economia é saber o que é o milho, o trigo, o arroz, o açúcar, o algodão, a lã, o carvão e o ferro, ou seja, saber o que é a Agricultura, o que é a Indústria e, principalmente, saber que tudo isto só funciona se tiver a mão do próprio homem e se se destinar a servir o homem.

Que importa enumerar intenções (naturais e sobrenaturais, públicas e particulares, nacionais e internacionais) se não se sabe como se faz o pão que se come, o vinho que se bebe, o tecido que se veste, a energia que se gasta nem quanto tudo isto custa? A verdadeira lição não está na autoridade do discurso…

Cito, vários acordos ortográficos atrás, a prosa de Ortigão: “Metade d’aquillo que valemos, moralmente e intellectualmente, devemol-o aos contactos e ás suggestões dos individuos que nos teem rodeado atravez da existência”. E lendo, hoje, esta citação digo que os bons políticos também devem ter a humildade de beber no que outros lhes possam oferecer.

Quem melhor do que nós, cada um de nós obreiro no sector onde trabalha e cria riqueza, poderá contribuir para as soluções que se exigem? Quem saberá, como nós, que não é justo, nem equilibrado, nem avisado que a fiscalidade se agrave sobre os imóveis, em especial sobre as casas que adquirirmos, com enorme sacrifício, para habitação própria?

Quem melhor do que nós poderá lembrar que muitos canalizaram as poupanças de uma vida para adquirir um imóvel destinado a obter, pelo arrendamento, rendimentos que mais nunca foram do que um complemento de uma reforma que não tinham ou era escassa? Será justo penalizar tais rendas em sede de IRS, em vez de lhes aplicar uma taxa fiscal autónoma?

Estas bandeiras, incluindo a da agilização do despejo de quem não paga renda, fundamental para empurrar a reabilitação urbana, deveriam ser, nesta campanha, bandeiras de todos nós, partidos incluídos, na convicção assumida de que, por aqui, pela Construção e pelo Imobiliário, passa a recuperação reclamada.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 27 de Maio de 2011 no Diário de Notícias

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