A notícia – de abertura em muitos jornais, em algumas rádios e até em telejornais – parece, à primeira vista, uma boa notícia mas, infelizmente, é o anúncio de um segundo subprime que ameaça desregular o mercado imobiliário. Diz-se que os bancos estão a facilitar o financiamento das casas que herdaram para escoar, a qualquer preço, o ‘stock’ de imóveis penhorados.

Ao que parece, e ao contrário do que acontece nos financiamentos normais para a habitação, financiam a compra a cem por cento, isentam os clientes de várias despesas e oferecem ‘spreads’ competitivos, além de colocarem aqueles imóveis com descontos superiores a 30% do valor de mercado.

Julgam assim – tudo o indica – facilitar a venda das casas que lhes foram parar aos braços na sequência do crédito à habitação malparado. No imediato escoarão alguns imóveis, mas a desregulação que geram no mercado fará com que recebam muitos outros imóveis, numa bola de neve que é um verdadeiro segundo subprime.

Infelizmente, o que parecia uma solução eficaz, pelo menos na penumbra silenciosa de alguns gabinetes de executivos, rapidamente ganhará os contornos de um verdadeiro desastre para o sector imobiliário, com a desvalorização forçada de imóveis, numa espécie de “dumping” escondido que se vira contra o próprio dinamizador do “dumping” e que gera novos stocks em vez de escoar os indesejados.

No primeiro momento, aparentemente mágico para quem promove estas soluções, até pode acontecer, como se lê nas notícias deste desastre, que alguns potenciais compradores, sejam particulares, sejam investidores, vejam nestas ofertas de mão beijada, condições únicas e inigualáveis nos tradicionais mercados de venda de imóveis. O busílis está no que a seguir virá, no chamado reverso da medalha.

A inevitável desregulação do sector que estas práticas geram (principalmente num contexto económico adverso de elevado desemprego), longe de aliviar a carteira dos bancos, recheada de imóveis penhorados, fará com que esta cresça ainda mais e mais rapidamente, pois uma das fontes clássicas passará a ser a promoção, incapaz de competir e de resistir às dificuldades no cenário de “dumping” mascarado que são muitos dos leilões de casas.

Ninguém, nem mesmo a banca, beneficia com este erro. Todos saímos a perder, até mesmo quem julga que comprou uma pechincha num leilão imobiliário de um banco. É que o valor, aparentemente muito em conta da compra, rapidamente será excessivo no quadro de desvalorização forçada que esta solução provoca. Haja bom senso para travar este desastre.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 16 de Julho de 2010 no Sol

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