Os elogios que o Financial Times tece à recuperação portuguesa, tão entusiasmados que classifica Portugal como o “herói-surpresa da retoma na Zona Euro”, destacando as exportações e o turismo, esses elogios bem que podiam ajudar a que os mercados se mostrassem disponíveis para comprar dívida a juros ainda mais baixos dos que têm sido conseguidos.

O sucesso na emissão de dívidas a longo e a curto prazo, embora encorajador, ainda é insuficiente para uma inequívoca sustentabilidade das dívidas contraídas. Há muito que seria justo que as taxas a praticar nesses empréstimos baixassem para valores semelhantes aos que se praticam nos empréstimos contraídos por outros países.

Já não falo em taxas negativas, como acontece relativamente aos empréstimos contraídos pela Alemanha, tão segura para os credores que estes pagam para emprestar-lhe dinheiro. Mas falo em taxas com valores de referência bem mais baixos do que os que têm sido alcançados, mesmo quando a procura é muito superior à oferta.

Os “três anos de austeridade castigadora e de profunda recessão” nas palavras publicadas pelo Financial Times, a que se junta o exílio económico de muitos jovens portugueses licenciados, a saírem para o estrangeiro, tudo isto merecia dos mercados – essa entidade desconhecida e mítica – outro comportamento.

O Financial Times reconhece que “dezenas de milhares de pequenas empresas faliram”, que “os salários e as pensões encolheram”, que “as desigualdades agravaram-se” e até numa imagem muito curiosa que “muitas vidas ‘enferrujaram’ devido ao desemprego de longa duração”.  Mesmo assim a recuperação teima em resistir.

O número que despertou a atenção do jornalista do Financial Times foi o crescimento de 1,6% no último trimestre de 2013. Valor só superado pela Holanda e muito superior a qualquer outro país da Zona Euro, incluindo a Alemanha que parece ser, nesta matéria, o país padrão. Valor que também superou as mais optimistas projeções dos economistas sobre Portugal.

É preciso puxar pelos sinais positivos para combater o desalento que ainda domina os portugueses especialmente aquele milhão que estão entre os que ficaram sem emprego ou tiveram de procurar a sobrevivência no estrangeiro quando estavam preparados e pensavam fazer vida em Portugal. A questão é mesmo essa – fazer vida em Portugal. Poder viver em Portugal.

Portugal tem vindo a perder portugueses e a atrair menos estrangeiros. A situação é tal que o próprio governo admite criar uma agência vocacionada para atrair quadros superiores, investigadores, investidores e até estudantes. Portugal que exporta cérebros, quer importar cérebros. Esta realidade é um sintoma do momento que se vive. O bom momento do Brasil faz com que muitos brasileiros residentes em Portugal estejam a regressar ao país de origem.

Os números da nossa situação dizem que quase milhão e meio de portugueses estão emigrados, dez por cento dos quais são jovens que possuem uma educação superior. Esta é a má notícia a que, felizmente o Financial Times não deu muito relevo, embora eles também saibam que os bons momentos e as recuperações precisam destas pessoas.

 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 24 de fevereiro de 2014 no Jornal i

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