Durante anos e anos, a esmagadora maioria dos portugueses olhava para os bancos como uma alternativa segura para guardar as poupanças que muitos ainda escondiam debaixo dos colchões. Por dinheiro no banco era seguro e rendia, pouco mas rendia. O risco sempre foi directamente proporcional ao lucro.

Com a abertura da sociedade portuguesa e a chegada a Portugal de modelos de desenvolvimento que outros países europeus bem conheciam, a própria banca portuguesa também começou a assumir o papel que os demais bancos europeus já assumiam e o pais conheceu um desenvolvimento nunca visto.

A válvula de segurança dessa panela de pressão que era a sociedade portuguesa, uma sociedade que na segunda metade do século XX ainda ostentava sinais características da sociedade medieval (não em sentido figurado,

sublinhe-se) , abriu-se e o “boom” que se seguiu foi exuberante e compreensível.

A transformação da sociedade portuguesa nos últimos 30 anos foi caso único e nela participaram as populações, ávidas de uma vida melhor, facilitando a vida a instituições também interessadas nessa explosão, como os bancos, e até os políticos que nem precisavam de adivinhar os desejos do eleitorado.

No sector da construção e do imobiliário, assistimos, como se compreende e era natural, à erupção de um ciclo construtivo marcado mais pela quantidade do que pela qualidade e, em grande parte, fortemente incentivado pelos bancos que competiam entre eles para ver quem emprestava mais e em melhores condições.

Subitamente, os Estados, incluindo o nosso, foram chamados a salvar o sistema  financeiro, injectando-lhes fundos públicos em nome da manutenção da confiança no sistema, mas quando todos pensavam que esse esforço reporia, com normais cautelas, a normalidade do nosso desenvolvimento, tudo mudou.

Os bancos salvaram-se mas, uma vez salvos, retraíram-se e retrocederam aos tempos em que serviam apenas para guardar as poupanças dos que conseguiam amealhá-las debaixo dos colchões. Com uma agravante, agora há menos poupanças e mais apetência pelo risco. Sem esquecer que devíamos estar a financiar o ciclo da qualidade.

É por esta e por outras que não há receitas tipo para nada. Nem para reanimar uma Economia em convalescença. Em Economia, tão importante como saber as leis da oferta e da procura é saber História. E quando a banca a ignora e se demite de um dos seus papéis – financiar a Economia , os resultados podem ser desastrosos para todos

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 30 de Julho de 2011 no Jornal de Notícias

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