Em politica, em todos os momentos, mas, principalmente nos momentos de crise, importa saber distinguir, com rigor e clareza, o que é essencial do que é acidental, para podermos optar pelas soluções mais adequadas e justas que cada desafio exige, sem necessidade de perdermos a face.
Vem isto a propósito, das lições de humildade e sensatez políticas, que o senhor primeiro ministro e o líder do principal partido da Oposição deram, ao mostrarem-se, tanto interna como externamente, em sintonia no que respeita à necessidade de enfrentar o défice e o endividamento públicos.
As vicissitudes, internas e externas, que a Grécia tem estado a enfrentar, seriam mais fáceis de superar se o pais conseguisse unir-se, ou pelo menos, transmitir para o exterior uma imagem de unidade, diferente da imagem trágica que tem estado a assustar a Europa.
Admito que não seja fácil, nem agradável, tentar superar algumas divergências, principalmente algumas divergências profundas nomeadamente, quando este esforço possa exigir uma aproximação, minimamente diplomática, entre pessoas que foram alimentando ódios entre diferentes.
Mas se, até em casos extremos – os das guerras entre irmãos como o que já viveu Angola, onde escrevo e de onde envio este texto – é possível superar divergências e encontrar denominadores comuns, não se perceberia outro comportamento por parte dos principais políticos.
Também as empresas e os sindicatos, com as reconhecidas e devidas diferenças, mas nem sempre, nem muito menos obrigatoriamente, com interesses opostos ou muito diversos, podem inspirar-se nesse esforço de aproximação que resulta quando sabemos distinguir o essencial do acidental.
E o essencial – neste momento como em quase todos os momentos – é sabermos dizer ao Mundo e a nós próprios que somos credíveis a gerar riqueza e a distribuí-la de forma equitativa e justa, e que, como se depreende, também somos credíveis na hora de honrarmos os nossos compromissos.
Ainda vale o gesto de Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques, que se apresentou a Afonso VII, juntamente com a mulher e os filhos, de corda ao pescoço para honrar um compromisso politicamente quebrado de Afonso Henriques, compromisso que o próprio Egas Moniz tinha avalizado.
“Vês aqui trago as vidas inocentes // dos filhos sem pecado e da consorte”, disse Egas Moniz a Afonso VII, num gesto de invulgar lealdade citado na epopeia de Camões, uma honradez que se colou para sempre à nossa alma lusa e que faz, ainda segundo os Lusíadas, com que a ira dê lugar à piedade.
Coisas que alguns financeiros do Mundo moderno não entendem.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 14 de Maio de 2010 no Sol