O ministro das Finanças reconheceu na Assembleia da República que a  perturbação ou interrupção do financiamento constituiria um peso terrível sobre as famílias. Vítor Gaspar fez esta afirmação quando confirmou que o Governo vai apresentar um orçamento rectificativo para acomodar os compromissos de apoio à banca assumidos no quadro do memorando de entendimento assinado com a troika.

O preço do dinheiro está pela hora da morte e é no agravamento das condições de financiamento às empresas, por exemplo às empresas de construção, agravamento potenciado pelas constantes e leoninas renegociações de empréstimos, que devemos encontrar parte da explicação para o incumprimento de promotores e construtores imobiliários.
 
Esta verdadeira pescadinha de rabo na boca, com a banca a apertar promotores e construtores imobiliários com renegociações de empréstimos duras para quem deve, potencia o incumprimento e a entrega à banca de muitos imóveis à espera de interessados e ou por acabar, num cenário do mercado imobiliário pouco favorável a facilitar o encontro da oferta com a procura.
Esta é uma leitura óbvia dos números que a Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) recentemente divulgou como resultado do cruzamento de dados oficiais a que temos acesso e do estudo que esses dados merecem e é regularmente efectuado pelo Gabinete de Estudos da própria APEMIP. Números que revelam maior incumprimento por parte das empresas do que por parte dos particulares.
 
Olhando de forma simples para o problema (o que não significa menos rigor) direi que há uma tendência para apertar a concessão de crédito a quem pretende adquirir casa própria, tendência que fará baixar a procura e, em consequência, a possibilidade da oferta poder escoar a um ritmo minimamente aceitável, condição sem a qual muita promoção/construção imobiliária não poderá resistir.
 
Esta autêntica suspensão temporária do mercado transformará a banca em promotora imobiliária forçada, numa potencial concorrência desleal para com a verdadeira promoção o que, em última análise, acabará por virar-se contra a própria banca. Repor esta confiança profundamente abalada exigirá uma outra politica de financiamento, mesmo que tal colida com a vontade que a banca tem de alcançar uma liquidez sólida.
Não há mesmo nada de mais contraditório do que uma liquidez sólida.
 
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
 

Publicado no dia 05 de Agosto de 2011 no Sol

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