Na hora de contrair um empréstimo para a aquisição da casa própria, onde ainda vive, embora com vontade de voltar a mudar, um amigo meu teve de se submeter a uma série de análises e exames médicos muito completos, agendados pela companhia de seguros indicada pelo banco para cobrir o respectivo crédito.

Há empréstimos que implicam que os segurados passem por um crivo científico, de natureza clínica, que ateste as probabilidades dos segurados terem uma qualidade de vida suficientemente longa para dar garantias ao banco de que terão vida e saúde para pagar o que devem.

Na situação mais clássica, como a desse meu amigo,  de um casal que contrai um empréstimo para a aquisição da casa própria, o seguro garante que em caso de morte ou invalidez permanente de um dos cônjuges a casa fica automática e totalmente paga ao banco.

Lembro o exemplo desse meu amigo por ter retido a fúria com que ele ficou quando soube que o médico da companhia de seguros lhe tinha negado o aval para o seguro em caso de invalidez permanente. Para que o seguro se chegasse á frente, ficar inválido não bastava, teria de morrer.

A explicação dada é que foi chocante. O médico disse-lhe que muito provavelmente, face aos indícios detectados (peso excessivo, dentes estragados, uma vida agitada), ele corria um risco elevado de poder ficar inválido, pelo que o banco, no caso dele, não arriscava e só garantia o pagamento em caso de morte.

As companhias de seguros são assim, jogam pela certa, em todas as circunstâncias, até quando possuem coberturas especiais que cobrem períodos de carência motivados, por exemplo, pelo desemprego. Só não cobrem os efeitos do descontrolo que se instala quando não há mercado e queremos fingir o contrário.

É o que vai acontecer se essa fúria da avaliação das casas for por diante, neste contexto de um mercado imobiliário cujo preço justo, o de mercado, é difícil de aferir, face aos desencontros da oferta e da procura que se verificam no actual momento.

Vão ser, seguramente,  avaliadas em alta, pelo preço mais conveniente para quem as quer avaliar de repente, ou seja, para o fisco, fixando valores que estarão longe, mas muito longe dos praticados no mercado. O fisco aprendeu com os seguros e quer morrer rico e de velho, seja à custa de quem for.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luís.lima@apemip.pt

Publicado no dia 25 de Outubro de 2011 no Jornal de Notícias e Diário de Notícias

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