Que alguns fundos imobiliários estrangeiros estejam a sobrevoar Portugal, à espera de uma desvalorização extraordinária do património imobiliário português, entende-se. Mas que sejamos nós a tomar a iniciativa dessa mesma desvalorização, mostrando-nos mais usurários que os próprios usurários, apenas para salvar a vidinha de alguns é atitude que nos fica muito mal e, pior ainda, que acabará por se virar contra todos nós, desgraçando-nos a vida.

O património imobiliário português, o que conseguimos edificar com muito sacrifício, nunca (muito menos na última década), foi alvo de inflações especulativas que justifiquem essa inexplicável vontade de o apoucar e de o dar ao desbarato como quem paga um tributo, no caso um tributo ilegítimo e a quem tem tantas ou mais culpas pelo estado a que a nossa Economia chegou do que nós. Como canta Rui Veloso nas “estrelas do céu”, até parece que o mundo inteiro se uniu pr’a nos tramar!

Rui Veloso, numa das primeiras e mais emblemáticas canções, diz que não há estrelas no céu para alegrar o caminho. Isso era válido há mais de 20 anos, quando a canção foi escrita. Hoje ainda há menos estrelas no céu para alegrar os nossos caminhos mas há na terra, especialmente nas periferias das principais cidades, muitas casas devolutas à espera de quem as habite, como proprietários ou como arrendatários, num cenário em que muitos, apesar desta evidência, parecem unidos na estranha cruzada de fazer desvalorizar o património imobiliário.

Campanha que seguramente não interessa ao país, e por razões óbvias, aos portugueses, nem ao espaço político e económico em que Portugal se inscreve, nem mesmo a quem julga que lucrará comprando na periferia da Europa aos preços de saldo forçado que alguns, dentro e fora do país, parecem tão empenhados em promover, como quem empenha o país, sem hipótese de resgate, e vende joias da coroa ao preço do pechisbeque.

Tão grave como este desprezo pela riqueza que soubemos construir, com que sacrifícios, é o desânimo que atitudes desta natureza provocam no comum dos mortais cujos sonhos mais legítimos passam pela vontade de contribuir para revitalizar o nosso próprio país, sem desamores induzidos pelo que fomos erguendo como património do nosso esforço e inteligência. É nosso dever defender o que é nosso para mantermos viva a indispensável chama da esperança.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 01 de Fevereiro de 2012 no Público

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