Embora a vida, a nossa vida, muito dependente do estado da Economia que a rege, não possa ser vista como um jogo, tampouco um jogo de dominó, a verdade é que, nesta alegoria há uma peça, entre as que se destacam, que já vale quase 40 mil milhões de euros, mais precisamente 39 816 milhões de euros que é o valor dos atuais débitos à banca por parte do setor da Construção e do Imobiliário.

Se juntarmos a esta peça de um dominó que serviu e tem de continuar a servir para construirmos parte do universo, onde nos movimentamos, uma outra peça, também pesada, que vale 114 mil milhões de euros e que representa o crédito ainda não resgatado que a banca portuguesa cedeu às famílias só em sede de crédito à habitação, identificamos duas peças que não podem cair.

Tanto mais que são peças que se erguem na primeira linha da construção que fizemos na sociedade em que escolhemos viver e que, se caírem, como nas construções de peças de dominó, por mais belas que sejam na sobriedade do preto e branco de uma clássica peça de dominó, arrastarão na queda muitas obras, que lhes estão próximas, num desmoronar muito perigoso.

O preto e o branco que marcam a aparência das peças de dominó exige, como nas fotografias, sempre maior rigor, mais qualidade na sua apresentação final do que a qualidade das cores a utilizar em qualquer outro artefacto que se apresente colorido. É que, a preto e branco, as imperfeições e os erros são sempre bem visíveis e detetáveis.

Esta prudência, que deverá assentar, como tento dizer, no rigor e no cuidado com que devemos mexer em todas as peças desta construção que é a nossa Economia, implica que estejamos sempre abertos a reequacionar todas as situações que podem determinar o nosso presente e o nosso futuro, incluindo se necessário, como se depreende, até o teto das nossas dívidas e o prazo para as pagar.

O que é sagrado é a própria vida, que deve ser vivida com sobriedade, é certo, no respeito pela sustentabilidade do nosso Mundo, mas também com um mínimo de qualidade para as pessoas em nome das quais fazemos política, construindo e reconstruindo cidades e garantindo cidadanias sem ceder a quaisquer interesses,tantas vezes mal identificados para disfarçarem a respetiva ilegitimidade.

Não é apenas uma questão de ética. É principalmente uma questão de inteligência. Até os vírus mortais – que se alimentam de vida – parecem saber parar quando a vida diminui para números preocupantes. Terá sido isto que aconteceu com muitas pestes negras que assolaram a Idade Média. Esta crise não pode ser uma epidemia, nem uma guerra. Muito menos a última.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 03 de Fevereiro de 2012 no Sol

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